A
minha filha de 4 anos é absurdamente fascinada pelo caminhão do
lixo. Ela
sempre me pergunta: pai, o caminhão do lixo vai passar hoje?
E,
quando
ele vem gritando um quarteirão acima, 23
horas, ela
já escuta e corre me chamando pra varanda: vamos
pai, vamos pai, me sobe que eu quero ver o caminhão do lixo!
E
ela fica lá vendo o trabalho da coleta do lixo da rua de uma visão
privilegiada. E vai narrando e comentando tudo, me explicando o que
eles estão fazendo.
Essa
cena já aconteceu dezenas e dezenas de vezes. Sempre
nas terças, quintas ou sábados.
E
esse foi o mote para falarmos de um projeto duríssimo: recolher
o lixo de uma cidade com 2,6 milhões de habitantes!
Pelo
que apurei, Fortaleza produz aproximadamente 50
mil toneladas por mês de lixo doméstico.
E,
para tratarmos todo esse lixo, gastamos aproximadamente DUZENTOS
MILHÕES DE REAIS POR ANO!
O
caminhão do lixo é um veículo totalmente adaptado para transportar
o máximo possível de lixo. Isso
é possível graças ao mecanismo de compactação presente na
abertura traseira do caminhão. Muita
força e suspensão boa também para carregar tanto peso. O objetivo,
claro, é minimizar a quantidade de viagens que o caminhão faz para
se livrar do lixo.
É
um
trabalho magnífico de logística. A cidade é toda loteada e cada
caminhão/equipe atende a lotes específicos em dias específicos. De
forma simplificada, é como se Fortaleza fosse dividida em duas
“metades” e cada uma destas recebe a coleta de lixo em dias
alternados.
A
coleta
implica diretamente no trânsito e várias vezes se dá durante a
madrugada. Lá
na minha rua, cinco minutos que o caminhão do lixo trava o trânsito
e já é buzina no ouvido da Isabela.
Fora
o trânsito das centenas de viagens que os caminhões fazem dos
bairros até o despejo no aterro sanitário em Caucaia, a
aproximadamente 20 quilômetros do Centro de Fortaleza.
Esse
aterro, meu amigo, é surreal. É
uma montanha de lixo gigantesca e com 20 METROS DE ALTURA.
É
inacreditável!
E
todo dia eles empilham mais lixo lá em um trabalho ensandecido, mas
com muita ciência envolvida para o tratamento adequado do chorume
(líquido) e para a queima do metano (gás).
A
minha
primeira morada em Fortaleza foi bem próxima ao desativado aterro do
Jangurussu. É
uma montanha gigantesca que eu acho que nem tem nada parecido lá em
Várzea Alegre. O meu tio sempre me explicava que era uma montanha
artificial, feita pelo homem, juntando lixo. Mas isso nunca entrava
na minha cabeça. Parecia
mitologia.
A
equipe
do projeto de recolher
o lixo de uma cidade com 2,6 milhões de habitantes é
gigantesca. Desde
que o pessoal que fica “no ar condicionado” planejando, ao
pessoal que fica com os tratores “amassando” o lixo no aterro,
aos motoristas e, principalmente, aos coletores-atletas:
rapaziada
que todos os dias corre por quilômetros e quilômetros tirando lixo
da rua e jogando no caminhão, fugindo
de bichos, cortes e atropelamentos. Um trabalho insano. Tão
insalubre que essa palavra nem mesmo é capaz de definir. Os
heróis da Isabela.
E os
meus também.
Imagine
só uma semana sem coleta de lixo e terá uma noção do que eu estou
falando.
Os
coletores apelam para que todos façam o descarte correto, por
exemplo, enrolar vidros quebrados em jornal.
E
nós todos somos fundamentais para que esse projeto seja bem
sucedido:
-
Descartando o lixo da melhor maneira possível
-
Descartando o lixo no dia correto que o caminhão passa
-
Separando o lixo reciclável
-
Não jogando lixo na rua
-
Agindo com educação e civismo pelo bem comum
O
lixo na rua sempre volta pra gente através de enchentes e doenças.
É só pensar na infestação de chicungunha que estamos
presenciando. Fez
até a dengue e a zika serem “esquecidas”.
Também
cito a teoria das janelas quebradas. Em
um terreno limpo, a
pessoa pensa 100 vezes antes de jogar um papelzinho. Agora, meu
amigo, se já tem uns saquinhos de lixo ali, porque não cabe o meu
também? É o bicho-homem em sua definição mais pura.
Atenção
também que cada lixo tem um tratamento
específico:
-
Reciclável
-
Hospitalar
-
Entulho
-
Móveis
O
lixo hospitalar é incinerado e somente as cinzas “inofensivas”
vão
para o aterro. Entulho
e lixo doméstico superior a 50 quilos diários por pessoa devem ser
coletados de maneira particular. A prefeitura fica fora hehe
Os
catadores também trabalham no projeto. São formiguinhas sem
muito incentivo da sociedade tentando fazer um trabalho
importantíssimo: reciclar o lixo!
Segundo
o G1: “Fortaleza conta atualmente com Ecopontos onde os moradores
podem descartar lixo em troca de descontos na conta de luz ou
créditos no transporte coletivo. O Ecoponto recebe gratuitamente
pequenas proporções de entulho, restos de poda, móveis e estofados
velhos, além de pneus, óleo de cozinha, papelão, plásticos,
vidros, metais, celulares e aparelhos eletroeletrônicos”.
Já
vi também várias campanhas para o descarte apropriado de
eletrônicos, pilhas e baterias.
Não
preciso nem lembrar do que o descarte inadequado do lixo pode causar:
Pelo
interior do Brasil, em
cidades
menores e sem tanta grana, ainda sobrevivem os lixões
improvisados mesmo. É só pegar a estrada que logo você verá uma
montanha de lixo com sacolas e urubus voando pra todo lado.
Eu
já conversei com outros pais e amigos e Isabela não é exceção:
lá em casa é do mesmo jeito; o meu sobrinho também é assim; o meu
filho também é fascinado pelo caminhão do lixo…
Esse
fascínio todo vem do genial filme Toy Story 3. É que o clímax da
história ocorre todo no lixo: caçamba + caminhão + aterro +
incineradora.
As
crianças gostam muito do filme, da história e, por tabela, do
caminhão do lixo que os levam de volta à aventura.
Mais
uma obra-prima da Pixar e eu, que já era fascinado pelo trabalho
deles, fiquei ainda mais encantado depois de conhecer os bastidores
de como eles desenvolvem a tecnologia e os filmes. Foi graças a esse
presente aqui:
Pense
bem quando for descartar o seu lixo, beleza?
Um
abraço!
Ei, psiu, se liga…
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