2020.
Eu
comecei esse ano muito desmotivado, tanto que não fiz o meu
orçamento anual depois de vários anos fazendo. Até o planejamento
de metas foi preguiçoso e só planejei mesmo algumas coisas para
estudar. Parece que eu tava era adivinhando que o tão sonhando 2020
da modernidade e da tecnologia seria assim meio coisado.
A
tradição
de
fazer um post biográfico e reflexivo no meu aniversário nos trouxe
até aqui porque no meu ano 35 eu acabei tendo que abandonar…
Os
blogs.
O
governo
acelerou as ações para acabar com a Dataprev e eu optei por ter uma
atuação mais política no Facebook em detrimento ao tempo que os
blogs me demandavam. Eu gastava umas 8 horas pra fazer um post que
tinha algumas dezenas de visualizações e achei melhor direcionar
esse tempo pra fazer dezenas de pequenos posts com centenas de
interações no Facebook e demais redes sociais. Obviamente,
essa estratégia impulsionou a minha busca por novos amigos mundo
afora e hoje existem muitos amigos virtuais que têm uma presença
gigante na minha vida.
A
Dataprev.
Em
agosto, entramos oficialmente no PPI do salim mattar e do guedes que
é um slide dizendo o quê e quando eles querem dar pros empresários
amigos e a gente logo ganhou até uma data de óbito que seria no
caso em dezembro desse ano – 2020! - o
que, por sinal, batia com a minha expectativa após o resultado do
primeiro turno da eleição.
Em
novembro, saiu um boato que 20 escritórios seriam fechados e
aparentemente era só um boato, mas aconteceu na primeira semana de
2020 quando
a empresa anunciou a demissão sumária, falsamente de livre escolha,
de 500 colegas em todo o país.
A
minha
primeira greve.
O
governo começou o ano a mil por hora e a gente teve que dar uma
resposta equivalente e foi quando deflagramos a primeira grande greve
nacional do governo bolsonero – uma
rara demonstração de coletividade nos últimos anos.
Os
escritórios foram fechados, mas conseguimos realocar a maior parte
dos colegas em outros órgãos do governo, conseguimos melhores
condições para os que foram demitidos e conseguimos demitir a
própria
presidenta.
A
manifestação virtual se juntava à manifestação real nas ruas e
foi quando eu fiz
O
protesto
de
raspar a minha cabeça depois de 18 anos do vestibular.
Os
estudos
progrediram
e finalmente eu dominei o monstro do Java Script. Também
aprendi muito na Dataprev sobre uma nova área da previdência.
O Inglês excelente agora me possibilita assistir a qualquer vídeo
sem legendas, embora eu ainda tenha muita dificuldade para produzir
conteúdo. Inevitavelmente,
também li e estudei muuuuuuito sobre…
A
pandemia.
Um
colega meu me mostrava vídeos surreais da quarentena de Wuhan, e
a gente estava compensando as horas da greve, quando o Governador
decretou as novas regras de funcionamento da economia e o home office
que foi discutido e adiado por anos virou uma realidade do dia pra
noite.
O
caos.
Por
causa do hub aéreo, da falta de infraestrutura e da alta densidade
demográfica, Fortaleza se tornou uma das piores cidades em casos e
mortes e as coisas ficaram bem dramáticas por aqui com um barulho
contínuo e aterrorizante de ambulâncias, hospital em estádio e
contêineres frigoríficos nas UPAs para acomodar os cadáveres. No
nosso pior dia, 12/05, foram 125 óbitos. E
há umas semanas eu escrevi que 1 em cada 1000 habitantes da cidade
foi vítima fatal da pandemia.
O
confinamento.
Ainda
bem que o meu emprego me permitia trabalhar de casa. Tínhamos saúde,
uma excelente moradia, a nossa companhia em família, emprego,
renda, poupança.
Obviamente,
nada disso caiu do céu. Tudo veio graças a muito estudo, trabalho e
oportunidades.
Então,
estivemos
em uma condição privilegiada para nos trancarmos em casa por 100
dias. Eu
levei numa boa, mas as meninas sofreram mais, principalmente a
Isabela com seus 7 anos que chegou a ter alguns pequenos “surtos”.
O
negacionismo.
E
aí a ciência mundial, o
capitalismo e a globalização
foram
extremamente
humilhados
e desafiados
por um vírus invisível e foi justamente nos países em que as
pessoas foram enganadas no WhatsApp de Jesus por Steve Bannon e
elegeram líderes burros,
fracos e
negacionistas onde o vírus mais fez vítimas. Se
já não bastasse todo o prejuízo econômico e social de uma eleição
desastrosa, a pandemia multiplicou isso por 10. Escancarou
ainda mais…
A
falta de empatia
que
já vinha crescente nos últimos anos com um discurso enganoso de
meritocracia, individualismo e empreendedorismo. É uma pandemia de
um vírus, uma crise sanitária e só a união coletiva da sociedade
melhora as chances de sobrevivência. A falta de empatia chegou aos
menores níveis antes inimagináveis quando as pessoas se recusavam a
se isolar, a usar máscaras e ainda se achavam no direito de fazer
aglomerações e protestos políticos numa cidade onde morriam 100
pessoas por dia de uma doença desconhecida.
As
fake news que
garantiram uma vitória folgada na eleição resultaram agora em 6
dezenas
de milhares de brasileiros e brasileiras mortos, ainda sob novas fake
news de que as mortes não eram reais e o negócio ficou fatalmente
recursivo.
A
mentira venceu
e
continuou vencendo. E matando. E não ser mentiroso no Brasil se
tornou motivo de vergonha, porque é inevitável você não se sentir
um otário, quando vários Ministros de Estado mentem até no seu
currículo oficial pra
ficar no nível de um presidente que mente tanto que você nem
acredita se ele tentar falar a verdade.
As
máscaras estão
caindo foi o que eu escrevi pra citar a queda de alguns mitos
brasileiros que a pandemia tinha liquidado e também no sentido
físico que muitos não sabem utilizar esse adereço altamente
desconfortável a que nos vimos obrigados a incorporar ao nosso
convívio.
O
isolamento social veio
pra ficar. São 2 metros de distância física para evitar a
transmissão do vírus e, desde uma dica da minha irmã, eu avancei
no isolamento de várias e várias pessoas
da minha vida, seja no convívio físico, seja no convívio virtual.
Quem não serve pra me ajudar, não faz a menor falta na minha vida.
A
bolsa de valores foi uma nova aventura e aprendizado com a
consultoria do meu irmão e o impulso dos juros negativos.
O
Corinthians ficou pra
trás em junho de 2019, então foi o meu primeiro ano inteiro sem
Corinthians. Foi bem mais fácil do que todo mundo imaginava. E hoje
realmente o que me faz falta é jogar futebol e, claro, tomar aquele
banho de mar.
(Obviamente,
a cura para essa pandemia que nos
permita sair de casa novamente sem medo de morrer por um vírus e a
gente volte a ter medo só dos assassinatos e acidentes de trânsito.)
A
Isadora
fez
um curso pra aprender a dormir e, finalmente, depois dos primeiros 14
meses, voltamos a dormir noites completas na medida do possível. Mas
ela é extremamente ativa e danada e demanda atenção em tempo
integral. Ela
dá muito trabalho. Em
janeiro, finalmente conseguimos despachá-la pra passar umas horas na
escola e aí, 2 meses depois, o que acontece? Todas as escolas do
mundo fecham. É brincadeira!? Última
moda dela é riscar todos os cantos possíveis da casa com todos os
lápis e canetas possíveis.
A
Isabela teve
a sua formatura do ABC. Tempo mágico em nossas vidas e até hoje
esperamos pelas fotos e filmagens que a pandemia atrapalhou. Ela
é quem está lidando pior com o isolamento social. Está realmente
muito agressiva e
entediada. Mas
já está bastante independente também.
A
Alânia
é
como eu escrevi há umas semanas: nunca antes na história foi tão
importante escolher bem com quem você quer conviver.
O
home office
tem
sido positivo na medida do possível. Tem sido uma boa experiência
até quem sabe para o futuro fazer
um home office em euros.
Até
porque eu sempre priorizei ter um bom escritório em casa.
E as atividades que eu peguei nessa fase se mostraram totalmente
possíveis sem o convívio em escritório. Na
verdade, o que está lascando o meu home office é o…
homeschooling.
O
sonho da elite branca conservadora está se mostrando um caos. Pra
Isadora o EAD simplesmente não rola. A professora chega a gravar
vídeos personalizados e exclusivos pra ela de 1 minuto, mas ela não
chega nem nos 30 segundos. A Isabela se mostra relutante em fazer as
aulas. Até faz e com relativa independência. Mas é imprescindível
um acompanhamento pra que funcione. Enfim, é uma energia imensa dos
pais e um ponto de muito estresse e conflito.
O
aniversário.
Eu
já tinha escrito que os eventos sociais estavam bastante estranhos,
principalmente os velórios solitários. Casamentos adiados.
Aniversários só em família… A minha mãe estava planejando um
forrozão e a gente nem sequer pode se ver no dia do aniversário
dela. Os 2 anos da Isadora foram bizarros com a família participando
por videoconferência e os vizinhos no pé da porta mantendo os 2
metros. O meu aniversário não deve ser menos estranho.
Os
feriados.
Também
percebi e registrei como é estranho e bizarro demais os feriados em
tempos de pandemia e home office. Inclusive, feriados futuros foram
antecipados e a coisa ficou ainda mais bizarra.
O
São
João ou
a não existência dele, com certeza, foi uma das maiores marcas da
pandemia. Porque muita gente acha que o vírus é problema só dos
outros, mas todos nós sentimos como é um junho sem os festejos
juninos.
O
Bon
Jovi.
Quase
que eu publicava o post sem falar no maior sobe o som da minha vida.
PQP que noite!
A
saúde mental.
A
cada ano, tenho me sentido uma pessoa mais madura. Ficou bem piegas,
mas é isso daí que taí. Atualmente, o que me deixa puto é a
burrice e a falta de empatia das pessoas. As Isas também comem o meu
juízo aqui no confinamento. Mas, tirando isso, me sinto muito
tranquilo. Às vezes, até me surpreendo como eu tô levando um tempo
tão ruim de forma tão tranquila. O
emoticon de homem meditando virou o meu mais utilizado durante a
pandemia.
Um
autoconhecimento muito bom de quem eu sou, onde estou, do que está
acontecendo e quais alternativas eu posso criar pra mim. Enfim,
um…
Aprendizado
que
se junta ao técnico e me torna aquele sertanejo forte pra o que vem
pela frente.
O
exílio se
tornou uma possibilidade real e temos conversado bastante sobre se,
como e quando tentarmos criar as Isas na Europa.
O
futuro. Comecei
falando que não tive tesão pra planejar 2020 e, acredite, a
pandemia só piorou tudo isso. Mas a meta é deixar o máximo de
portas abertas. Até breve. Até um dia.
Obrigado
a todos os familiares e amigos que me ajudaram no meu 35o
ano a me tornar essa nova pessoa que sou hoje. Valeu!
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Ei, psiu, se liga…
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