quarta-feira, 24 de maio de 2017

Como curei uma bursite trocantérica






Esse é um post longo que eu demorei muito “a escrever”. Na verdade, contarei agora a história de uma lesão que me demandou quase dois anos de tratamento e recuperação – a maior lesão da minha vida.


Brincarei com a igualmente longa série Game of Thrones a fim de deixar o post mais lúdico.


E na parte útil do post, vamos discutir um pouco se a medicina está doente, pegando o mote da Revista Superinteressante.


Então, “senta, que lá vem a história”.







1a TEMPORADA: The Winter is Coming




Em setembro de 2015, no nosso racha oficial de sábado, eu cheguei com tudo à linha de fundo e girei ao máximo o quadril para cruzar a bola para o meio da área. Travei a corrida imediatamente porque não havia mais campo. Nessa hora, eu ouvi um “truco” e senti que tinha feito “merda”.


Eu achei que era uma distensão muscular e esperei todos os prazos para a minha autorrecuperação: 15, 30, 45 dias e nada… Hora de procurar ajuda médica.


O exame de raio X não indicou nenhuma fratura e partimos então para a ressonância magnética.


É aquele exame claustrofóbico que você entra dentro de um tubo apertado, com frio e muitos barulhos assustadores e precisa ficar imóvel por uns 20 minutos.


O laudo do exame indicava que eu tinha… nada.


Mas o ortopedista detonou esse laudo e disse que uma determinada manchinha branca não sei onde lá no exame era um sinal de bursite trocantérica.




Basicamente, inflamação nas bolsas que amortecem o impacto do fêmur (trocânter) com os músculos da bacia. Coloque a mão direita na lateral do seu quadril e saberá do que eu estou falando.


Nessa temporada de Game Of Thrones, eu tinha que fazer 10 sessões de fisioterapia – 1 para cada episódio.




2a TEMPORADA: The North Remembers




E era a fisioterapia por atacado patrocinada pelos planos de saúde. Clínicas loooootadas, com muitos pacientes idosos e poucos profissionais para dar conta de tudo.


Infelizmente, não dá para fazer tratamentos personalizados e o tratamento vai no atacado mesmo, com os equipamentos disponíveis: choque, calor, gelo, ultrassom, bicicleta, fitas, elásticos…


Num desses dias, eu ouvi o pessoal do administrativo da clínica conversando e descobri que o meu plano pagava à clínica 14 REAIS por sessão! Pior ainda, foi quando eu constatei que o meu plano era o que pagava mais.


Eu perdia a manhã inteira para fazer toda a fisioterapia e conseguir, enfim, chegar ao trabalho. E foi por conta disso que resolvi entregar o meu cargo de gestão na empresa onde trabalho: para poder me dedicar plenamente à minha saúde.


As minhas dores aumentavam e eu temia estar fazendo os exercícios da fisioterapia de maneira equivocada.


Nessa brincadeira, fiz 30 episódios, digo, sessões de fisioterapia, já era 2016 e eu decidi procurar um ortopedista especialista em quadril.




3a TEMPORADA: The Rains of Castamere




Ele me pediu para refazer a ressonância magnética em uma clínica específica que, supostamente, possuía uma máquina melhor.


Óbvio que o plano de saúde odiou a ideia, mas, cumpridas algumas burocracias, liberou o novo exame.


Na hora de fazer o exame, os médicos perguntam onde está doendo. Claro que é preciso direcionar o exame. Mas eu também fiquei bem cismado. Parece que eles querem a qualquer custo achar alguma justificativa para as dores nas imagens.


E foi nessa brincadeira que eu ganhei um novo laudo apontando QUATRO PROBLEMAS!


O ortopedista falou que iniciaria o tratamento obviamente pela parte mais light, ou seja, pela fisioterapia, mas, se não resolvesse, ele poderia me operar.


Dada a gravidade dos fatos, eu optei por pagar pela fisioterapia, abrindo mão da ajuda do plano de saúde.


E aí, era outro nível. Tratamento com hora marcada e um profissional te atendendo exclusivamente durante uma hora, ao custo de 80 R$. Incluímos até RPG no tratamento, mas as coisas não iam bem.


Se as dores na região da bursite diminuíam, eu já começava a sentir dores espalhadas em várias regiões do quadril. Às vezes, dores imobilizantes.


Nessa época, eu trabalhava em pé praticamente o dia inteiro para as queixas dos meus colegas.


Foi quando a fisioterapeuta abriu: vou fazer um laudo do seu tratamento e você vai lá conversar com o médico sobre essas novas dores.


(Nessa temporada, eu também me encontrei com um dentista para fazer um tratamento de canal. Eu havia encontrado um vídeo no Youtube de um rapaz que só curou 4 anos de bursite quando tratou um problema dentário.)




4a TEMPORADA: First of His Name


 
 
 


Lá chegando, fui muito mal recebido.


Ele disse que não poderia me atender porque a cooperativa médica estava renegociando melhores remunerações com o meu plano de saúde. Todos os ortopedistas da cooperativa (acho que todos do Ceará) estavam proibidos de atender pelo plano casos que não fossem de urgência.


E óbvio que ele disse que a minha dor FDP não era caso de urgência tanto que eu já estava convivendo com ela há meses. Óbvio também que ele disse isso porque a dor não era ele quem estava sentindo.


Além da queda, o coice. Eu fui muito humilhado. Você paga um absurdo em impostos para manter o SUS e ele te deixa na mão. Você paga um absurdo a um plano de saúde e, quando precisa, ele te deixa na mão. Você confia na ética médica e no juramento e isso não serve pra nada se não houver grana no meio. E o pior de tudo era a dor e o pensamento que nenhum médico do Ceará iria me atender.


Atendendo a conselho de um amigo, fui ao terceiro ortopedista. Paguei uma consulta em um ortopedista de confiança que já tinha me tratado outras vezes. É legal que, para marcar uma consulta pelo plano, só tem vaga pra daqui a não sei quantas semanas. Mas, pagando em cash, você consegue vaga PRA HOJE. Tanto que eu não estava com os exames e precisei ir buscá-los antes da consulta.


O diagnóstico dele foi de pequena lesão no labrum – que é o ossinho onde o fêmur se “encaixa” no quadril.


A lesão cicatrizaria sozinha. Caso contrário, somente poderia ser resolvido com intervenção cirúrgica.


Ele me deu um remédio muito louco para bloquear a dor. E isso foi a minha morfina durante 8 semanas. Realmente, eu estava no paraíso (sem dores). Mas os efeitos colaterais eram pesados e, às vezes, eu sentia umas vertigens.


Eu deveria tomar o remédio à noite uma vez que ele dava sono. Mas, depois de duas noites acordados, passei a tomá-lo pela manhã.


Acabado o remédio mágico, as dores voltaram com tudo e ele só me passou o contato de um colega que operava.




5a TEMPORADA: The Dance of Dragons


 
 
 


E aí? Só particular? Será que o plano vai me ajudar? Pago o médico e o plano paga o hospital? Tem consulta pra quando? Quantos dias de burocracia? Terei a grana? Como será o pré e o pós-operatório? Ainda andarei? PQP!


Enquanto esperava a temida consulta, recorri a um quarto ortopedista. Ele me disse que não sabia o que eu tinha, estava curioso com o meu diagnóstico, e, o que mais me marcou: o médico que me operasse simplesmente com base naqueles exames deveria ser processado. Se eu realmente tinha alguma coisa, era leve demais para merecer uma cirurgia que praticamente me deixaria aleijado.


Mas eu não estava louco ainda. Triplo PQP carpado!


Finalmente, eu estava frente a frente com um dos dois médicos do Ceará que operavam quadril por vídeo (somente dois ou três furos no corpo em vez de um corte longitudinal completo).


Ele viu e ouviu tudo e deu o veredicto: realmente, você tem indicação para fazer a cirurgia, mas ela não vai resolver nem 70% das suas queixas.


Nessa hora, não tinha mais nem como categorizar a minha loucura e o meu PQP.


Daí, ele achou melhor começar pianinho e fazermos um tratamento com um coquetel de drogas, algumas fitoterápicas. Eu me lembro bem dele tirando várias caixas de amostras grátis das gavetas. E já me pediu dezenas de exames que também seriam úteis para a futura cirurgia.


Somente nesse tempo, eu ouvi a minha prima médica me recomendando uma reumatologista.


Marquei e fui.




6a TEMPORADA: Battle of the Bastards


 
 


Lá chegando fui recebido por uma jovem médica, muito simpática e agradável, muito gata. S2.


Ela detonou a minha postura corporal e o meu tratamento experimental. Não havia estudos comprovando que aqueles remédios serviam para o meu problema.


Ela disse que a minha musculatura estava toda travada e isso é o que explicava as dores generalizadas. O meu tratamento era ir pra academia. UAU!


E fez uma infiltração – injeção de anti-inflamatório dentro da articulação.


E eu voltei à academia depois de não sei quantos anos.


Fiquei assim algumas semanas, sob efeito dos anti-inflamatórios e esperando os resultados da musculação.


Nesse meio tempo, a gente viajou de férias e um item obrigatório da bagagem era a bolsa de gelo que já me acompanhava há um ano. Em cada hotel que a gente fazia check in, a primeira providência era colocar a bolsa de gelo no frigobar. Era bizarro.




7a TEMPORADA: A Longa Caminhada




Voltando das férias, fui me encontrar com uma nutricionista. A partir dali, eu emagreceria 8 quilos em 100 dias e tenho convicção de que isso ajudou na minha cura. Mas isso é tema de um outro post quem sabe no futuro.


Voltando das férias, recorri a um osteopata/fisioterapeuta que um amigo indicara. Só depois fiquei sabendo que ele era o coordenador da fisioterapia do Fortaleza Esporte Clube.


Ele me disse que não queria ser mais um ator do meu Game of Thrones. Eu disse que ele já era, mas precisava ser o último.


Lá na clínica eu senti outra vibe. Havia muitos atletas (profissionais ou não) se tratando lá. Senti firmeza desde a chegada.


Ele fez a sessão de osteopatia recolocando todas as minhas articulações no lugar e me direcionou à sua esposa – fisioterapeuta.


Ela diagnosticou que o meu músculo interno (virilha) estava travado e era isso o que estava arrebentando com os músculos externos.


O tratamento era manipulação dos músculos através de terapia manual, além de exercícios. É uma espécie de massagem só que traz a maior dor que você pode sentir. Às vezes, eu achava que ela queria arrancar o meu músculo para colocar em um quadro. Sempre 10 ou 15 minutos de tortura, com direito a lágrimas, murmúrios, gritos e xingamentos.


A ideia era ativar e fortalecer todos os músculos, restabelecendo a biomecânica natural.


E é incrível como aquele negócio funciona. Tanto que alguns pacientes a apelidaram de “minha malvada favorita”. Num lance bem sádico, a gente sempre voltava lá para pagar mais 80 R$ e sofrer mais nas mãos dela e da sua equipe.


Claro que a gente só voltava porque via os resultados mágicos do tratamento.


Aos pouquinhos, eu fui passando pelas massagens, pelos exercícios, até chegar ao Pilates. Mais um pouco e eu já estava na esteira. CORRENDO!


Lembro da fisioterapeuta falando: “cara, é nessas horas que a nossa profissão recompensa. A tua alegria correndo nessa esteira não tem preço”.


E eu a subornei com alguns chocolates e ela me liberou para o último racha do ano:






Parecia um mero detalhe, mas o suficiente para eu dizer que joguei futebol em 2016. Assim como em todos os anos da minha vida.


O maior ensinamento dela foi uma massagem com bolinhas terapêuticas. Simplesmente, posicionar as bolinhas sob os músculos lesionados e se deitar sobre elas por algum tempo. Isso faz o serviço de ativação da musculatura – que faz a mágica toda funcionar.


(Nessa temporada, eu também apelei para a minha psicóloga. Não havia alternativas: ou eu ficava doido de vez ou eu ficava bom do quadril.)




8a TEMPORADA: {Imagine um título}


[Imagine uma foto]


Agora, eu estou voando.


Há pouco, eu fiz um gol como nos velhos tempos, dando uma arrancada de 30 metros em altíssima velocidade. Que satisfação!


Voltei a jogar futebol 2 vezes por semana, às vezes, alternando com corridas.


Além desses 2 treinos aeróbicos semanais, também faço musculação 2 vezes por semana, mantendo tudo em ordem.


As metas para 2017 incluem: praticar esportes 3 vezes por semana; correr 200 km e correr pelo menos 5 provas oficiais.


A primeira corrida eu narrei aqui:




A segunda corrida foi a Night Run no último sábado. E vem aí a MARATONA! :P








E sempre que eu sinto algum incômodo ou lembrança de dor, já recorro às bolinhas.






No fim, escapei de duas cirurgias e de ficar aleijado aos 30 anos.


Pensei muito em abandonar o futebol, mas voltei a praticar com total confiança, pois tenho o telefone da minha malvada favorita e equipe.


Obrigado a todos que me ajudaram nessa longa série.


Aos amigos que sempre me aconselharam e me transmitiram força psicológica, pensamentos positivos e orações.


A todos os profissionais de saúde que estiveram ao meu lado tentando me curar.


À minha família pelo suporte, principalmente, à minha amada esposa Alânia Tavares, grande parceira na saúde e na doença.


#Tamujunto


Fiquem com Deus.


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quarta-feira, 17 de maio de 2017

Os N empregos das aspas






Vivemos a derradeira fase do capitalismo, mas ele ainda vai espernear muito e nos azunhar muito antes de morrer. Nós vamos trabalhar muito, em vários empregos ruins, simultaneamente.






Já tratamos dessa temática em outro post do blog:




Todo bom estudante de Português sabe da versatilidade do porquê e dos seus usos:








Pois eu acho que as aspas têm tanta versatilidade quanto o porquê.


O uso clássico desse sinal de pontuação é para delimitar uma citação. Elas são especialistas nisso! Naquela hora que você quer mandar um CTRL C CTRL V de um terceiro bem no meio do seu texto.


Ou até mesmo de outro texto seu, como eu já falei no post da semana passada: “Óbvio que nenhum projeto são só flores do início ao fim”.


Também utilizamos muito as aspas agora como um recurso de ironia, quando queremos relativizar ou mesmo desdenhar da definição literal da expressão marcada com as aspas.


Outra possibilidade é para marcar neologismos no texto. Uma forma de avisarmos aos leitores que estamos “inventando” aquela palavra ou atribuindo um novo significado para ela.


As danadinhas generalistas também podem aparecer como recurso de formatação, quando queremos delimitar no texto uma expressão formada por um conjunto de palavras.


Os meus amigos fazedores de sistemas adoram utilizar essa função das aspas:


O campo “Data de Nascimento” é obrigatório.


Nessa mesma toada, elas ainda servem para delimitar no texto o nome completo de obras.


O livro “Fazendo um projeto dar certo” apresenta mais de 1000 dicas sobre Gerenciamento de Projetos e Desenvolvimento de Sistemas.


Escrevendo em Inglês, também fui orientado a utilizá-las num contexto bem semelhante:


I write on blogs “Fazendo um projeto dar certo” and “Bora Ouvir Uma”.


Quando estamos lendo um texto em voz alta, é necessário dizer “abre aspas” e “fecha aspas” para a leitura correta e para a boa transmissão da mensagem.


Quando conversamos olho no olho, é comum desenharmos as aspas no ar, utilizando-se os dedos indicadores e médios.


É uma demonstração da capacidade absurda do bicho-homem de se comunicar.


Aspas dentro de aspas, viram apóstrofes. É uma regra hierárquica que vem lá da matemática com os seus parênteses, colchetes e chaves.


Então, agora é contigo. Não erre mais essa questão das aspas. E eu abro aspas pra você que vai mandar ver aqui nos comentários.


Um abraço.






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