Peço
desculpa aos leitores pelo título do post, mas não encontrei no
dicionário nenhuma palavra melhor para descrever o que a mineradora
Samarco fez. Um projeto que não deu tão certo e que está
complicando muito a vida de várias pessoas que não tinham nada a
ver com a empresa. Matou pessoas, animais, rios, sonhos... Tudo em
busca de mais dinheiro e com um gerenciamento de riscos falho. Até
porque, como veremos aqui, gerenciar os riscos do projeto custa
dinheiro.
“Riscos
são eventos incertos que podem ocorrer ou não e, seguramente, vão
afetar os objetivos do projeto. Não temos certeza se vão ocorrer ou
não, e não temos certeza em que grau eles vão ocorrer.”
“Gerenciamento
de riscos consiste em identificar as possíveis incertezas e
controlá-las.”
Geralmente,
vemos incertezas como coisas ruins. Mas elas também podem ser
positivas: e se a nossa campanha de marketing atingir o dobro do
público esperado? E se viralizar?
Estratégias
de resposta aos riscos
Quando
pensamos nas incertezas maléficas ao projeto, as teorias apontam 4
tipos de respostas possíveis:
-
EVITAR O RISCO – significa investir uma grana para abortar a causa raiz do evento de risco;
-
TRANSFERIR O RISCO – significa terceirizar os prejuízos oriundos da efetivação do risco. De forma didática, pense na contratação de um seguro;
-
MITIGAR O RISCO – significa atuar para diminuir a probabilidade do risco ocorrer ou para diminuir os estragos causados caso o risco aconteça;
-
ACEITAR O RISCO – significa “pagar para ver”. A equipe do projeto detectou o risco, mas o considera de baixa probabilidade e/ou de baixo impacto para o projeto. Se ele acontecer, bancamos a contingência.
Analogamente
às estratégias acima, temos estratégias para maximizar os riscos
positivos para o projeto. Respectivamente: Provocar,
Compartilhar,
Melhorar e
Ignorar.
Gerenciar
os riscos do projeto custa dinheiro
As
estratégias chamadas preventivas (realizadas antes que o risco
ocorra) implicam em desembolso imediato de dinheiro. Para as
estratégias reativas, também é necessário ter esse dinheiro à
disposição no projeto (reserva de contingência). Este
é o custo direto do gerenciamento de riscos e deve ser adicionado ao
orçamento do projeto. Veja que é vital fazer um
gerenciamento de riscos bem feito para evitar que o projeto fracasse
pela ocorrência de um risco não gerenciado ou se torne inviável
financeiramente pelos altos custos do gerenciamento dos riscos.
Adicionalmente,
o projeto precisa ter uma reserva gerencial. É aquela “gordura”
no prazo ou no orçamento que será usada caso aconteça algum risco
além dos previstos no gerenciamento de riscos. É uma reserva
necessária para aumentar as chances do projeto dar certo.
Obviamente, quanto melhor a gestão dos riscos no projeto, menor será
a reserva gerencial.
As
notícias dão conta de que a Samarco deverá aportar 20 bilhões de
reais em um fundo para recuperação da região nos próximos 10
anos, além das multas impostas pelo acidente ocorrido e do risco de
falência da empresa – que não gerenciou
adequadamente o risco do rompimento da barragem.
Nós,
brasileiros, nos acostumamos a ouvir no noticiário a expressão “mar
de lama”. Mas sempre de forma metafórica e associada à
corrupção. O que a Samarco fez foi acabar com a nossa metáfora e
nos trazer de volta à literalidade.
Post
Scriptum
Para
mim foi muito difícil escrever este post em virtude do seu alto grau
emotivo. Afinal, várias pessoas inocentes e desavisadas foram
literalmente enterradas vivas.
A
Samarco é da Vale do Rio Doce. A nossa empresa de mineração que
foi privatizada a preço de banana e com dinheiro emprestado pelo
BNDES.
Quem
libera as licenças para a mineração e fiscaliza as atividades é o
Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério das Minas
e Energia. Tudo controlado pelo PMDB. Para quem a Samarco/Vale doou
dezenas de milhões de reais somente na última eleição. E o
sistema é foda, parceiro!
Póstumo
Scriptum
A
ironia maior da história é que a empresa Vale do Rio Doce matou o
vale do Rio Doce de onde ganhou o seu nome.
Para
saber mais
No
livro Fazendo um projeto dar certo,
discutimos os problemas que a falta do gerenciamento adequado de
riscos pode ter em O projeto não tem
planejamento.
Considere
também o livro a seguir, específico sobre Gerenciamento de Riscos:
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