sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Gerenciamento de riscos e a cagada da Samarco





Peço desculpa aos leitores pelo título do post, mas não encontrei no dicionário nenhuma palavra melhor para descrever o que a mineradora Samarco fez. Um projeto que não deu tão certo e que está complicando muito a vida de várias pessoas que não tinham nada a ver com a empresa. Matou pessoas, animais, rios, sonhos... Tudo em busca de mais dinheiro e com um gerenciamento de riscos falho. Até porque, como veremos aqui, gerenciar os riscos do projeto custa dinheiro.


Riscos são eventos incertos que podem ocorrer ou não e, seguramente, vão afetar os objetivos do projeto. Não temos certeza se vão ocorrer ou não, e não temos certeza em que grau eles vão ocorrer.”


Gerenciamento de riscos consiste em identificar as possíveis incertezas e controlá-las.”


Geralmente, vemos incertezas como coisas ruins. Mas elas também podem ser positivas: e se a nossa campanha de marketing atingir o dobro do público esperado? E se viralizar?



Estratégias de resposta aos riscos
Quando pensamos nas incertezas maléficas ao projeto, as teorias apontam 4 tipos de respostas possíveis:
  • EVITAR O RISCO – significa investir uma grana para abortar a causa raiz do evento de risco;
  • TRANSFERIR O RISCO – significa terceirizar os prejuízos oriundos da efetivação do risco. De forma didática, pense na contratação de um seguro;
  • MITIGAR O RISCO – significa atuar para diminuir a probabilidade do risco ocorrer ou para diminuir os estragos causados caso o risco aconteça;
  • ACEITAR O RISCO – significa “pagar para ver”. A equipe do projeto detectou o risco, mas o considera de baixa probabilidade e/ou de baixo impacto para o projeto. Se ele acontecer, bancamos a contingência.


Analogamente às estratégias acima, temos estratégias para maximizar os riscos positivos para o projeto. Respectivamente: Provocar, Compartilhar, Melhorar e Ignorar.



Gerenciar os riscos do projeto custa dinheiro
As estratégias chamadas preventivas (realizadas antes que o risco ocorra) implicam em desembolso imediato de dinheiro. Para as estratégias reativas, também é necessário ter esse dinheiro à disposição no projeto (reserva de contingência). Este é o custo direto do gerenciamento de riscos e deve ser adicionado ao orçamento do projeto. Veja que é vital fazer um gerenciamento de riscos bem feito para evitar que o projeto fracasse pela ocorrência de um risco não gerenciado ou se torne inviável financeiramente pelos altos custos do gerenciamento dos riscos.


Adicionalmente, o projeto precisa ter uma reserva gerencial. É aquela “gordura” no prazo ou no orçamento que será usada caso aconteça algum risco além dos previstos no gerenciamento de riscos. É uma reserva necessária para aumentar as chances do projeto dar certo. Obviamente, quanto melhor a gestão dos riscos no projeto, menor será a reserva gerencial.


As notícias dão conta de que a Samarco deverá aportar 20 bilhões de reais em um fundo para recuperação da região nos próximos 10 anos, além das multas impostas pelo acidente ocorrido e do risco de falência da empresa – que não gerenciou adequadamente o risco do rompimento da barragem.


Nós, brasileiros, nos acostumamos a ouvir no noticiário a expressão “mar de lama”. Mas sempre de forma metafórica e associada à corrupção. O que a Samarco fez foi acabar com a nossa metáfora e nos trazer de volta à literalidade.







Post Scriptum
Para mim foi muito difícil escrever este post em virtude do seu alto grau emotivo. Afinal, várias pessoas inocentes e desavisadas foram literalmente enterradas vivas.


A Samarco é da Vale do Rio Doce. A nossa empresa de mineração que foi privatizada a preço de banana e com dinheiro emprestado pelo BNDES.


Quem libera as licenças para a mineração e fiscaliza as atividades é o Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério das Minas e Energia. Tudo controlado pelo PMDB. Para quem a Samarco/Vale doou dezenas de milhões de reais somente na última eleição. E o sistema é foda, parceiro!



Póstumo Scriptum
A ironia maior da história é que a empresa Vale do Rio Doce matou o vale do Rio Doce de onde ganhou o seu nome.







Para saber mais
No livro Fazendo um projeto dar certo, discutimos os problemas que a falta do gerenciamento adequado de riscos pode ter em O projeto não tem planejamento.


Considere também o livro a seguir, específico sobre Gerenciamento de Riscos:



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Ei, psiu, se liga…
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