quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Algumas palavras sobre as palavras








Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento

Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento


E aí, você já commutou hoje?


Esse post é bancado pelo nosso patrocinador Escola de Redação Nós Tá Mil: se você não tirar 1000 na redação do Enem, nós devolvemos o seu dinheiro.


Com um grande incentivo da empresa onde trabalha, esse blogueiro resolveu voltar a estudar Inglês. É mais uma tentativa de dominar esse idioma...


Essa semana eu deparei com a palavra commute (que abriu e deu o mote todo para o post). Como bom aluno de idiomas, corri ao tradutor:


Commute = deslocar-se diariamente para o trabalho


Daí eu pensei logo: como esses ingleses gostam de trabalhar! Eles têm uma palavra só para dizer que vão todo dia ao trabalho!


Na minha evolução linguística, também tenho utilizado o próprio dicionário do curso. Em Inglês! Colher as definições também em Inglês implica em avanço no domínio do idioma. E acho bem curioso a forma como eles definem algumas palavras. Vejamos um exemplo:


blue (adjective) = the color of the sky during the day
azul (adjetivo) = a cor do céu durante o dia




Enquanto isso, Isabela aprende Português


Papai, por que isso aqui se chama escova?
(Pensa, pensa, pense, penso… O que você responderia?)
Não sei, filha. Alguém achou que isso tinha “cara” de escova e deu esse nome.


Outro diálogo…


O que você está fazendo, filha?
Você não está vendo, papai? Eu estou facando!


Nessa hora, ela utilizava uma faquinha “de plástico” para cortar as massinhas de modelar.


Aos 4 anos, ela não conhece bem todo o Português, nem todas as palavras, mas já mostra bastante domínio sobre algumas regras matemáticas que definem o idioma:
  • um “R” após um substantivo, pode nos dar um verbo;
  • e “NDO” após esse substantivo, pode nos dar um gerúndio, que indica um ato contínuo;


Temendo a democracia linguística vigente e precisando impor a colonização portuguesa, o Marquês de Pombal, em 1757, instituiu a Lei do Diretório, obrigando o uso do Português no território hoje compreendido por Maranhão e Pará. Dois anos depois, um alvará ampliou a exigência para todo o território nacional.


E também está lá na nossa maltratada Constituição Federal de 88, Capítulo III:


Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.”


"Tudo junto” é separado e “separado” é tudo junto!



Estrangeirismos e termos técnicos


Quem nunca utilizou a palavra deletar?


É isso aí. Uma palavra nova que veio lá do Inglês, mais precisamente da Informática: delete é o comando que utilizamos para apagar informações de um banco de dados. Aportuguesada, ganhou um “AR”, para virar um verbo. (Olha que Isabela sabe o que está fazendo…)






Money que é good nóis num have (HEAVY!), se nóis hevasse
Nóis num tava aqui playando, mas nóis precisa de worká
Money (MONEY!) que é good nóis num have (HEAVY!), se nóis hevasse
Nóis num tava aqui workando, o nosso work é playá


As linguagens de programação são minha praia (por formação)… São as diferentes “línguas” que nós, programadores, utilizamos para instruir os computadores a fazerem o que desejamos.


Num processo que muitos chamam de aculturação, o Português é mais “aberto” a incorporações de palavras do que o Espanhol, assim como os brasileiros gostam mais de termos estrangeiros do que os portugueses e demais latinos. É só pensarmos que os portugueses chamam o mouse do computador de rato (em Espanhol, ratón) e os smartphones de telemóveis (em Espanhol, móvil).


Deve ser por isso que os meus colegas da Informática fazem tanta questão de diferenciar o Português de Portugal (PT-PT) do Português do Brasil (PT-BR).


Nesse momento, eu lembrei de um filme no qual o Adam Sandler namora uma lourinha (Drew Barrymore) que tem uma doença que a faz esquecer de tudo quando dorme: 50 First Dates (50 primeiros encontros, na minha tradução). A adaptação para o Brasil nos trouxe o título Como se fosse a primeira vez. Em Portugal, preferiram Minha namorada tem amnésia.


Nessa toada, ainda podemos falar do Portunhol. O “idioma” que muitos brasileiros e os demais latinos falam quando estão interagindo entre si. Lembro até dos e-mais misturados que o Alexandre mandava pra mim depois de morar seis meses na Argentina. Também escuto muito de alguns colegas que há lugares nos Estados Unidos onde convivem tantos brasileiros que o idioma “oficial” chega a ser o Português.


Ainda sobre traduções e termos técnicos, já estive em um congresso internacional com tradução simultânea. Eu achei ESPETACULAR o trabalho dos tradutores. Porque, rapidamente, eles precisam ouvir em um idioma, decodificar a mensagem e retransmiti-la (falando) em outro idioma. O tempo todo, de forma contínua e, principalmente, sem traduzir os termos técnicos para não destruir o entendimento da mensagem.


Ao final do evento, fui lá prosear com eles e questionei sobre os termos técnicos. Eles responderam que estudavam esses termos antes do congresso exatamente para saber o que não traduzir. Fantástico!


Há alguns anos, o Banco do Brasil criou um sistema de senhas muito inteligente. O sistema gerava senhas automáticas combinando três sílabas entre as dezenas de sílabas possíveis no sistema. Isso acabava transformando a senha em uma “palavra”, muito fácil de memorizar. Genial!


(Esse ano, alguém achou que estava muito fácil e gerou “sílabas” com números, w, h, x e y. As novas “palavras” são simplesmente impossíveis de se memorizar – e quem fala isso é uma pessoa de 31 anos e da Informática. Daí, você precisa anotar a senha em algum lugar e a segurança vai pro espaço.)


Lembrando sempre que, pela norma culta, em um texto em Português, qualquer expressão que não esteja nesse idioma deve aparecer em itálico.



Decassílabo só tem 5 sílabas!



Várias palavras = um significado


Em um post recente…




vimos que a indústria esconde o açúcar em “mil” nomes para nos ludibriar. Relembrando:


AÇÚCAR, também conhecido como: Açúcar, Sacarose, Frutose, Lactose, Glicose, Glucose, Dextrose, Maltodextrina, Açúcar mascavo, Açúcar demerara, Açúcar orgânico, Açúcar invertido, Açúcar magro, Açúcar moreno, Açúcar light, Açúcar de confeiteiro, Mel, Agave e Xarope de milho.


Globalizando a definição, temos as imagens abaixo:










Uma palavra = vários significados


Também houve um post onde brincamos com as várias definições da palavra projeto:






E os emojis?


Os emojis são as figuras utilizadas nos programas de trocas de mensagem de texto, popularizadas através de ferramentas como o Whatsapp. Eles foram criados com o intuito de adicionar emoções e sentimentos às mensagens textuais (frias).






Eles vieram parar aqui no post porque o Dicionário Oxford elegeu um emoji como a “palavra do ano” de 2015. O vencedor foi a imagem que representa um “rosto com lágrimas de alegria”.








Adicionando utilidade ao post


A minha irmã Eugênia está estudando para concursos e compartilhou com a gente alguns esquemas de estudo (mapas mentais) sobre modalidades esportivas. Daí eu tive a ideia de convidar o meu pai, Professor de Português Vicente Paula Pereira, para dar uma incrementada no post. Sempre com a ajuda do Mestre Azeredo, vamos dicionarizar algumas palavras sobre palavras.


Alô minha galera que está se preparando para o ENEM e para concursos:






Signo: estrutura linguística composta de um significante, formado por letras e fonemas, sendo a parte material do signo, e um significado, que representa uma imagem, ideia ou conceito, sendo a parte imaterial do signo.


Vocábulo: são unidades átonas da língua que se agregam a outras palavras. Preposições. Conjunções. Artigos. Pronomes oblíquos.


Palavra: as palavras são os signos linguísticos por excelência, representam ideias e conceitos. Gramaticalmente, “são unidades mínimas” dotadas de significado(s).


Sinônimo: são palavras que apresentam sentidos semelhantes, parecidos, aproximados. Ex.: casa – moradia – lar. Casa = sentido geral da palavra – a casa de Pedro (o imóvel que pertence a Pedro) ou a Casa Freitas (o estabelecimento comercial); moradia = a casa de Joãozinho e seu amigo José (o lugar onde moram pessoas); Lar = a casa da família Pereira (o abrigo de uma família).


Antônimo: é o sentido oposto, contrário ou incompatível com outra palavra. Alegre/Triste – Frio/Quente.


Homônimo: são palavras que possuem a mesma pronúncia, às vezes a mesma grafia, mas sentidos diferentes. Sede (substantivo: vontade de beber água) – Sede (matriz de uma entidade ou associação). Cedo o meu lugar (verbo: ceder) – Chego cedo (advérbio).


Parônimo: palavras que se diferenciam ligeiramente na pronúncia e na grafia. Descriminar / discriminar. Dispensa / Despensa.


Sufixação: processo de formação de novas palavras com adição de um sufixo após o radical da palavra original. Exemplo: fácil + “idade” = facilidade.


Prefixação: processo de formação de novas palavras com adição de um prefixo antes do radical da palavra original, podendo inclusive alterar o sentido original. Exemplo: “in” + justo = injusto.


Palíndromo: palavra ou frase que pode ser lida em qualquer um dos sentidos, sem prejuízo ao entendimento: arara; socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!


Eufemismo: é a linguagem da gentileza. Consiste em usar termos ou expressões mais suaves, agradáveis. “Passou desta para a melhor” (em vez de “morreeeeeeuuu...”).


Coletivo: a palavra que, mesmo no singular, representa um grupo de coisas ou objetos. Que tal o famoso cacho? De bananas, de cabelos… (O coletivo de pessoas é ônibus. :P Brincadeirinha...)


Abreviação: o processo de abreviação é muito comum dentro de uma língua. Consiste no “encurtamento” de um termo sem perda do seu significado original. Ex.: CINE (de cinema), MOTO (de motocicleta), FOTO (de fotografia) e o caçulinha do momento: REFRI (de refrigerante), dentre outros. Na época da sociedade da informação, em que tudo é mediatizado pelo “chipe”, é natural que as pessoas façam opção pelo mais simples.


Palavrão: geralmente de conotação sexual ou que faz depreciação de determinadas características de um ser. Costuma-se usar o nome de animais para destacar o lado negativo de alguém.


Xingamento: diferente do palavrão, a meu ver o xingamento serve para descarregar a raiva que sentimos de alguém ou para depreciar os mais fracos ou perdedores.







Nome: o nome significa o “nascimento” de um ser. Máxima: todos os seres devem ser nominados. Por exemplo, todas as novas espécies botânicas ou animais descobertas são “batizadas” com um nome em latim. É, por excelência, a certidão de nascimento dos seres. “Eu te batizo... em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.


Apelido ou alcunha: Pode ser a forma graciosa de se referir a alguém querido: minha “Gatinha Manhosa”. Como também pode ser uma forma depreciativa de se referir a alguém, principalmente com o objetivo de tirar do sério os famosos “pegadores de ar”. (Lembrou das pegadinhas do Mução?)


Gíria: as gírias constituem-se no modo especial de comunicação de diferentes grupos sociais. Seria o modo especial de falar de determinados “guetos”. Por isso às vezes fica difícil entendê-las fora dos grupos que as usam. Nessa definição, constituem uma “língua” própria do grupo.


Regionalismo: o regionalismo são os falares de uma determinada região. E aí vai um “oxente”, do cearensês, um “uai”, do mineirês, o “tchê”, do gauchês... É a pujança da língua, que é um organismo vivo, portanto, dinâmico, dentro da teoria linguística.


(O meu brother carioca Eduardo fica espantando com a quantidade de vezes que nós, cearenses, falamos “macho” durante um diálogo. Para nós, “macho” é um pronome de tratamento. Quando dizemos “calma aí, macho” equivale a dizer “fique calmo, Senhor”.)


Neologismo: consiste na criação de novas palavras, que são incorporados ao léxico de uma língua. Geralmente, surge da necessidade de incluir termos e expressões das novas atividades humanas, como acontece atualmente com a sociedade tecnológica.


Termo Técnico: termos e expressões utilizadas pelas ciências. São, portanto, específicos do mundo corporativo, da pesquisa e da ciência.


Jargão: é aquele termo ou expressão de um grupo técnico, científico, político, fechado. O economês e o politiquês são dois tipos de linguagem que usam e abusam do jargão.


Estrangeirismo: sãos as palavras e expressões de outras línguas que convivem com o vernáculo.


Vernáculo: linguagem pura, sem estrangeirismos.




Brincando com as palavras


Pra fechar o post em grande estilo, trazemos a letra Nada = nada, direto do nosso livro Miragens. É sobre signos e significados. Mais precisamente, sobre o zero que significa o nada.


Nada = nada

O que você faria se eu te pedisse pra representar o abstrato?
Como alguém consegue representar o nada?
Se tudo representa algo, como algo pode representar o nada?
Se abstraia e imagine que o nada virou algo.

Zé!, rode o mundo pra me encontrar
Zé!, rode o mundo pra me dizer.
Zé!, rode o mundo pra me mostrar
O signo insignificante que significa a falta de significado.

Quando for dormir sonhe com o infinito
Perca o controle de tudo e reinvente o nada
Como você faria pra representar esse vazio?
Que símbolo expressaria algo tão incomensurável?






Eu sempre tento explicar pra Isabela que eu preciso commutar cinco dias na semana. E, assim, fechamos esse post sobre as palavras, com 2 mil palavras.


Saudações.



Ei, psiu, se liga…
Dá para ficar sabendo das novidades do blog pelas redes sociais. Sigam-me os bons!


        

Conheça a minha obra completa em:

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Projeto de sair de casa










Você está num avião, é noite, tem um carinha ao lado escrevendo com caneta e caderno. O que você faz?


Esse post é bancado pelos nossos patrocinadores Mudanças MudaJá, Vagalume Linhas Aéreas e Clínica de Psicologia Tá Doido, é?.


Eram 23 horas e eu voltava do Rio para Fortaleza num voo da Avianca. Missão cumprida no Rio, hora de voltar para casa.


A mocinha ao lado estranhou e assuntou comigo:


- O que você está fazendo?
- Opa… Eu estou escrevendo. Eu sou escritor. Blogueiro. Poeta. E também eu morro de medo de voar.
Que “legal”.


Não sei se ela também estava com medo, mas não me deixou mais escrever muita coisa. Resumindo: ela é do Rio. Está morando em Fortaleza por conta do trabalho do pai. Voltava das férias no Rio. Contrariada. Queria voltar a morar no Rio. E foi daí que ela deu o mote para um post:


Por que você não escreve sobre o projeto de sair de casa?








Projeto de sair de casa


A minha filha Isabela acaba de completar 4 anos. Entre uma birra e outra, às vezes, ela me manda essa:


Não quero mais morar com vocês!


Pode isso, Arnaldo?







Eu já saí de casa 4 vezes. Começou aos 12 anos, quando voltei para Várzea Alegre, para morar com os meus avós, em busca de melhor educação. Aos 14, estiquei para Fortaleza, morar com os meus tios, novamente em busca de melhores condições de estudo. Aos 18, saí para morar com amigos. E aos 19, saí para morar na minha própria casa, casado.











Nenhum movimento nômade foi fácil. Nem para tomar a decisão, nem para me manter na nova morada. Deixar a segurança dos pais aos 12. Sair do sertãozão nordestino para uma das maiores cidades do país aos 14. Deixar a família aos 18. Casar e me manter financeiramente aos 19.










Deve ser por isso que eu conheço “meninos” e “meninas” quarentões que ainda moram com os pais.








Mas por que sair de casa?


Alguns dos motivos para essa atitude drástica podem ser:
  • buscar melhores condições de estudo
    • escolas que são referências na sua região
    • escolas que são únicas na sua metodologia de ensino
    • universidades (até mesmo com um curso específico que você deseja)
  • buscar melhores condições de trabalho
    • a empresa está te promovendo em outra cidade
    • só tem emprego/oportunidade em outra cidade
  • iniciar uma “nova” família
  • estudar e trabalhar com artes
  • intercâmbio em outro país para aprender um novo idioma
  • conhecer novos lugares/novas culturas
  • buscar melhores tratamentos de saúde
  • voltar a um lugar onde se morou no passado
  • ser despejado da moradia atual
  • fugir da violência/guerras
  • religiosidade/espiritualidade
  • buscar a natureza
  • buscar mais qualidade de vida
  • ambiente ruim em casa – esse, com certeza, o pior de todos







Quais os desafios para sair de casa?


Considere minimamente alguns pontos:
  • como se manter na nova morada?
    • questão financeira, de se sustentar mesmo – uma morada custa um bom dinheiro
    • questões práticas e operacionais, como:
      • dormir sozinho,
      • receber uma encomenda...
  • conforto da nova moradia
  • a saudade de quem (do que) ficou para trás
  • o trauma de quem (do que) ficou para trás







E aí? Como ficar sem a mesada do papai? Sem o colinho da mamãe? Sem casa, sem comida e sem roupa lavada?






A crise econômica é um grande dificultador para passarinhos que querem deixar o ninho… Se é verdade que os alugueis ficam mais baratos, também é verdade que os jovens terão bem menos oportunidades de renda para se manterem sozinhos. Pode ser um adiamento do voo.







Saio ou não saio?


Relacionamentos sempre são complicados. Até mesmo com o seu bicho de estimação você pode deparar com problemas na relação. Se há problemas com os relacionamentos que você mantém atualmente, não se iluda que é garantido ser diferente com outras pessoas. Considere até mesmo a possibilidade de morar só, caso o problema “seja você”.


Vamos chegando ao final do post, mas antes eu queria trazer uma notícia recente para enriquecer a nossa discussão:




Se você estiver chorando agora, fica tranquilo, tá tudo normal com você.


Esse foi um post muito pessoal e que, com certeza, vai tocar muita gente que já saiu de casa alguma(s) vez(es) ou que, nesse momento, pensa em sair.


Com o planejamento possível e conversando bastante com pessoas experientes (e que estejam dentro e fora do problema), vale a pena tentar. Mas nunca feche as portas que deixou para trás.


Um abraço e boa sorte.










Ei, psiu, se liga…
Dá para ficar sabendo das novidades do blog pelas redes sociais. Sigam-me os bons!


        

Conheça a minha obra completa em: