Dizem
os manuais de planejamento que uma boa meta precisa ser desafiadora.
Não
pode ser molezinha para não gerar acomodação da equipe e não pode
ser impossível para não fazer com que a equipe desista antes mesmo
de começar.
Lembrei
até da anedota presidencial: “Não vamos colocar meta. Vamos
deixar a meta aberta, mas quando atingirmos a meta, vamos dobrar a
meta”.
Temos
um post bem bacana sobre a definição de boas metas:
E
essa meta aqui, ó:
“Vamos
construir 1 milhão de cisternas!”
Rapaz,
como eu gosto de brincar: quem fala assim, não é gago, não. Que
meta arrojada, hein!? Quase insana eu diria. Um
milhão de qualquer coisa sempre é muita coisa. Até mesmo na China.
A
minha filha Isabela vai com 4 anos e está aprendendo os números e
as unidades de medida. Ela
cismou que milhões é uma unidade monetária. Não
sei de onde ela tirou essa ideia. Da minha conta, com certeza, não
foi. :P
Eu
até trabalho com milhões de reais, mas só trabalho. Estamos
desenvolvendo um sistema que paga mensalmente mais de 40 bilhões de
reais a mais de 30 milhões de brasileiros.
O
Jornal O Povo e a COGERH noticiam que o Ceará acumulou em seus
açudes em 2017, até
abril,
nada menos do que 1,250
bilhão de metros cúbicos de água.
UAU!
Eu
pensei: pronto! Estamos resolvidos.
Daí
continuei lendo
a matéria e descobri que isso era somente 25% da média histórica
de 4 bilhões! Triplo UAU carpado, agora!
Mas
deve ser água suficiente para evitar o racionamento pelo menos na
região metropolitana de Fortaleza. E continuamos na torcida para a
conclusão do projeto de transposição das águas do São Francisco.
Quem também está trabalhando forte “contra” a seca, são os nossos amigos das cisternas.
A
ideia é investir em mecanismos e tecnologias de convivência
com a seca, diminuindo o êxodo rural e, consequentemente, o inchaço
das cidades com as suas consequências indigestas: favelas, trânsito
e violência.
Foram
750 ONGs que se uniram na ASA (Articulação
Semiárido Brasileiro) para tocar esse projeto extremamente ousado:
colocar
em funcionamento 1 milhão de cisternas!
O
projeto
vai em cima do conceito da microeconomia. Pequenos grupos locais com
pouco dinheiro se unem para resolver localmente o seu problema. A
multiplicação desses grupos gera um formigueiro que levanta toda a
macroeconomia.
Os
próprios locais são capacitados a construírem as suas próprias
cisternas. Isso diminui os custos e gera um envolvimento
absurdo com o projeto. É
algo deles, que eles geraram e que precisará ser extremamente bem
cuidado.
Isso
é Fazendo um Projeto dar Certo, meu chapa!
As
próprias famílias são capacitadas sobre como manejar a água adequadamente e conviver com a seca e com a
cisterna.
Também
buscam a democratização
da água. Em vez de gastar milhões fazendo grandes barragens que
geralmente ficarão sob posse do maior fazendeiro da região,
coincidentemente, o dono do “curral” eleitoral, cada
pequena família é dona da sua própria cisterna. Inclusão,
cidadania e democracia.
Uma
política pública genial e nascida de baixo pra cima, ou seja, fora
do governo.
Tanto
que os governos do PT compraram a ideia e passaram a apoiar
fortemente o projeto. A
política pública foi assumida pelo poder público em forma de
parceria, sem matar o projeto original.
Um
projeto tão bem desenhado e agora com um patrocínio mais forte
atingiu um sucesso absurdo.
Acreditemos
ou não, eles bateram a meta ainda em 2014:
“Temos
1 milhão de cisternas
construídas!”
O
último relatório que eu encontrei é ainda pré-impeachment e já
apontava a marca de 1,2 milhão de cisternas construídas, ao custo
médio de 3 mil reais cada. Juntas elas conseguem armazenar 20
bilhões de litros de água. UAAAAAAAU!
O
governo ainda alega que parte desses 3 mil reais são economizados na
área da Saúde uma vez que a água de qualidade melhora a saúde
dessas famílias.
O
projeto “pegou” tanto que foram geradas algumas variantes. Eu
falo da construção de cisternas em escolas e da construção de
cisternas para a produção de alimentos. Essas últimas captam água
de mais baixa qualidade, exclusiva para a produção e só são
construídas para famílias que já possuem a primeira cisterna (a do
consumo).
Óbvio
que nenhum projeto são só flores do início ao fim.
O
governo investiu em cisternas de plástico e isso desagradou muito o
pessoal das ONGs por conta de todo o conceito inicial microeconômico
e solidário do projeto que eu expliquei no início do post.
A
cisterna de plástico é mais cara e, obviamente, feita por grandes
empreiteiras que podem fazer grandes doações eleitorais. Liguem os
fios.
Por
outro lado, acredito que tenha sido importante para dar escala e
chegar ao número mágico do projeto: “1 milhão de cisternas
construídas”.
Números
que também são divergentes e no site da ASA ainda se contabilizam
“apenas” 600 mil cisternas. Talvez sejam as de concreto.
Quando
eu pego o carro para voltar a Várzea Alegre, eu vejo dezenas de
cisternas nas casinhas que margeiam as rodovias.
A
minha pesquisa para o post se deu aqui ó:
Um
abraço.
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