sexta-feira, 12 de maio de 2017

Projeto das 1.000.000 de cisternas






Dizem os manuais de planejamento que uma boa meta precisa ser desafiadora. Não pode ser molezinha para não gerar acomodação da equipe e não pode ser impossível para não fazer com que a equipe desista antes mesmo de começar.


Lembrei até da anedota presidencial: “Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”.


Temos um post bem bacana sobre a definição de boas metas:




E essa meta aqui, ó:


Vamos construir 1 milhão de cisternas!”


Rapaz, como eu gosto de brincar: quem fala assim, não é gago, não. Que meta arrojada, hein!? Quase insana eu diria. Um milhão de qualquer coisa sempre é muita coisa. Até mesmo na China.







A minha filha Isabela vai com 4 anos e está aprendendo os números e as unidades de medida. Ela cismou que milhões é uma unidade monetária. Não sei de onde ela tirou essa ideia. Da minha conta, com certeza, não foi. :P


Eu até trabalho com milhões de reais, mas só trabalho. Estamos desenvolvendo um sistema que paga mensalmente mais de 40 bilhões de reais a mais de 30 milhões de brasileiros.


O Jornal O Povo e a COGERH noticiam que o Ceará acumulou em seus açudes em 2017, até abril, nada menos do que 1,250 bilhão de metros cúbicos de água. UAU!


Eu pensei: pronto! Estamos resolvidos.


Daí continuei lendo a matéria e descobri que isso era somente 25% da média histórica de 4 bilhões! Triplo UAU carpado, agora!


Mas deve ser água suficiente para evitar o racionamento pelo menos na região metropolitana de Fortaleza. E continuamos na torcida para a conclusão do projeto de transposição das águas do São Francisco.






Quem também está trabalhando forte “contra” a seca, são os nossos amigos das cisternas.


A ideia é investir em mecanismos e tecnologias de convivência com a seca, diminuindo o êxodo rural e, consequentemente, o inchaço das cidades com as suas consequências indigestas: favelas, trânsito e violência.


Foram 750 ONGs que se uniram na ASA (Articulação Semiárido Brasileiro) para tocar esse projeto extremamente ousado: colocar em funcionamento 1 milhão de cisternas!


O projeto vai em cima do conceito da microeconomia. Pequenos grupos locais com pouco dinheiro se unem para resolver localmente o seu problema. A multiplicação desses grupos gera um formigueiro que levanta toda a macroeconomia.


Os próprios locais são capacitados a construírem as suas próprias cisternas. Isso diminui os custos e gera um envolvimento absurdo com o projeto. É algo deles, que eles geraram e que precisará ser extremamente bem cuidado. Isso é Fazendo um Projeto dar Certo, meu chapa!


As próprias famílias são capacitadas sobre como manejar a água adequadamente e conviver com a seca e com a cisterna.


Também buscam a democratização da água. Em vez de gastar milhões fazendo grandes barragens que geralmente ficarão sob posse do maior fazendeiro da região, coincidentemente, o dono do “curral” eleitoral, cada pequena família é dona da sua própria cisterna. Inclusão, cidadania e democracia.


Uma política pública genial e nascida de baixo pra cima, ou seja, fora do governo.


Tanto que os governos do PT compraram a ideia e passaram a apoiar fortemente o projeto. A política pública foi assumida pelo poder público em forma de parceria, sem matar o projeto original.


Um projeto tão bem desenhado e agora com um patrocínio mais forte atingiu um sucesso absurdo.


Acreditemos ou não, eles bateram a meta ainda em 2014:


Temos 1 milhão de cisternas construídas!”


O último relatório que eu encontrei é ainda pré-impeachment e já apontava a marca de 1,2 milhão de cisternas construídas, ao custo médio de 3 mil reais cada. Juntas elas conseguem armazenar 20 bilhões de litros de água. UAAAAAAAU!


O governo ainda alega que parte desses 3 mil reais são economizados na área da Saúde uma vez que a água de qualidade melhora a saúde dessas famílias.


O projeto “pegou” tanto que foram geradas algumas variantes. Eu falo da construção de cisternas em escolas e da construção de cisternas para a produção de alimentos. Essas últimas captam água de mais baixa qualidade, exclusiva para a produção e só são construídas para famílias que já possuem a primeira cisterna (a do consumo).









Óbvio que nenhum projeto são só flores do início ao fim.


O governo investiu em cisternas de plástico e isso desagradou muito o pessoal das ONGs por conta de todo o conceito inicial microeconômico e solidário do projeto que eu expliquei no início do post.


A cisterna de plástico é mais cara e, obviamente, feita por grandes empreiteiras que podem fazer grandes doações eleitorais. Liguem os fios.


Por outro lado, acredito que tenha sido importante para dar escala e chegar ao número mágico do projeto: “1 milhão de cisternas construídas”.


Números que também são divergentes e no site da ASA ainda se contabilizam “apenas” 600 mil cisternas. Talvez sejam as de concreto.






Quando eu pego o carro para voltar a Várzea Alegre, eu vejo dezenas de cisternas nas casinhas que margeiam as rodovias.







A minha pesquisa para o post se deu aqui ó:



Um abraço.


Ei, psiu, se liga…
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