quarta-feira, 1 de agosto de 2018

E aí, macho, vai encarar?






Eu tô muito cansado cuidando de uma bebêzinha e ainda tem a filha mais velha, esposa, trabalho… Enfim, cada post inédito tem sido cada vez mais duro. Eu me olho no espelho e penso: e aí, macho, vai encarar?


Mas os blogs têm um propósito importante na minha vida, então vamos tentando…


Hoje eu vou dar uns pitacos sobre o acidente trágico recém-ocorrido no Beach Park, sempre tentando abordar por gestão, projetos e marketing.




O Acidente


No último 16 de julho de 2018, quatro adultos desciam em uma boia no brinquedo recém-inaugurado: Vainkará. Supostamente por excesso de peso, a boia ganhou muita velocidade e, na última virada, capotou, arremessando as pessoas contra o brinquedo. Um destes bateu com a cabeça e, tragicamente, faleceu.



[Vídeo demonstrativo de uma descida bem sucedida]




O Antimarketing


O Beack Park é um parque extremamente caro e turístico, não necessariamente nessa ordem. Pelo que apurei, o parque bombou após a crise que fez com que os turistas brasileiros fossem menos ao exterior. O parque recebe mais visitantes de São Paulo, do Rio de Janeiro e só depois, nós próprios, nativos.


Nessa toada, eles têm uma visão estratégica de sempre inaugurar novas superatrações no mês das férias (julho). É uma forma de não deixar cair na rotina e fidelizar um público para que volte sempre.


Só que ninguém quer pagar caro para morrer né, meu chapa!? Ninguém quer morrer em um lugar turístico em um momento de lazer.


O parque se propõe a ser um parque radical. Óbvio que há brinquedos para todos os gostos, níveis e idades, mas é nos brinquedos radicais onde o parque se destaca.


E a equipe do marketing “vai com tudo” na hora de bolar nomes intimidadores: Insano, Kalafrio, Arrepius, Vaikuntudo, além do finado Vainkará.


Os brinquedos radicais apresentam as indicações de risco e segurança, como restrições para grávidas e hipertensos, e, na maioria deles, réguas para impedir que os baixinhos se arrisquem. (É a régua que você tá pensando mesmo. Aquelas que a gente vê em consultórios pediátricos.)


E o povo do marketing caprichou no lançamento do Vainkará: trouxeram vários artistas e digital influencers (calma, pai). Daí, eles iam postar fotos e vídeos se divertindo no brinquedo e shazam!


Mas esse gravíssimo acidente no primeiro dia da operação oficial do brinquedo para o público em geral fudeu tudo!


Trouxe muita mídia negativa em todo o mundo para o parque.


É tanto que, quando começaram a compartilhar a notícia comigo, eu achei logo que era mais uma fake news de WhatsApp.


O brinquedo caríssimo está fechado desde então. E o parque ficou fechado em um dia de julho. Só isso aqui já foi um prejuízo milionário.




O Projeto


O Vainkará foi desenvolvido pela empresa canadense ProSlide. Ela se gaba de ser a número 1 em toboáguas radicais no mundo e que, dentre milhões de brincantes, foi apenas a primeira vítima fatal em seus brinquedos.


O projeto do Vainkará custou 15 milhões de reais e teve 2,5 anos de desenvolvimento, implantação e testes.










Oficialmente, foram realizadas mais de cem descidas de testes com o brinquedo já montado.






O Jogo dos 7 Erros


Eu tenho muito medo de voar, mas esse medo diminuiu bastante depois que eu comecei a assistir documentários sobre acidentes de avião. É rapaz! Lá eles investigam tudo nos mínimos detalhes para descobrir porque o acidente aconteceu e tomar medidas práticas para evitar que acidentes daquele tipo se repitam. É fantástico!


Só que a investigação dos acidentes não é objetivando punir pessoas “culpadas”, mas sim, entender o que deu errado para que não aconteça novamente.


(Eu tenho certeza de que o Vainkará está passando por uma investigação desse tipo.)


Então, eu vou listar aqui alguns erros que vi nessa história toda.


1. Funcionários – eles tinham a missão de não deixar uma boia descer com mais de 320 kg. Então, analisando friamente, o erro foi deles.


Mas eu não sou FDP de vir aqui jogar tudo nas costas dos funcionários do parque que ganham um salário “mínimo” para controlar centenas de descidas por dia.


2. Administração do parqueeles tinham que dar condições para os funcionários validarem a restrição de 320 kg por boia. Obviamente, com uma balança de precisão. Tal como são precisas e inquestionáveis as tais réguas que eu citei.


3. Processoo processo de operação do brinquedo era totalmente falho. Os funcionários tinham que validar no “olhômetro” se o peso estava adequado. Uma vez por minuto durante horas e horas. Isso controlando turistas curiosos e ávidos pela descida radical, depois de passar uma hora em uma fila em uma escada.


4. Falta da balança – se o peso era realmente um elemento tão crítico para a segurança, jamais esse brinquedo poderia operar sem uma balança à disposição para validar esse quesito importantíssimo.


5. Quantidade de testes – “mais de cem” testes eram suficientes?


6. Qualidade dos testes – que variações foram feitas nesses testes? Quando desenvolvemos sistemas, nós temos dezenas de tipos de testes diferentes. E um destes é o teste de estresse. A gente senta a porrada no sistema pra ver quando ele peida, digo, a gente sobrecarrega o uso do sistema para ver como ele vai se comportar e qual o máximo que ele vai suportar. Quantas descidas com mais de 320 kg foram feitas? Com quanto mais que 320 kg? Obviamente, usando manequins, né?


7. Projeto – no entanto, na minha opinião, o maior erro de todos foi do projeto do brinquedo: como é que um brinquedo para 4 adultos só suporta 320 kg? Como gastar 15 milhões para desenvolver um brinquedo praticamente inútil? Como não ter uma balança acoplada ao brinquedo? Pior ainda é saber que o brinquedo “irmão”, o Vaikuntudo padece da mesma restrição. Obviamente, considerando que este outro brinquedo já opera há 2 anos, os 320 kg lá foram subdimensionados, o brinquedo aguenta mais que isso é já houve descidas não fatais com mais de 320 kg. Porque é impossível reunir grupos de 4 adultos aleatoriamente durante dois anos e não exceder 320 kg.




A Calculadora


E esse episódio só me cheira a fake news. Eu digo isso porque li essa notícia e tive muita dificuldade para acreditar que não era uma fake news:




Fala sério, bicho!?


Que coisa mais tosca e amadora para um parque que quer ser referência mundial!


Tudo bem que algum diretor tenha surtado no meio de tanta pressão, mas o colegiado tinha que manter a sanidade nessas horas.




Eu no Beack Park


(Pra o post não terminar muito pesado haha)


O Beack Park é um lugar mágico. Quando você atravessa o portal, literalmente a sua aura muda, parece coisa de filme fantástico. Lá dentro, todo mundo muito feliz com o espírito renovado. É contagiante. Tudo muito bonito e colorido. Água e alegria pra todo lado. Tem até um rio e um mar de mentirinha.


Comecei a ir através de excursões com a turma da empresa. Conseguimos 50% de desconto e o passeio supercaro ficou apenas caro.


Mas eu, sertanejo que acha que água é ouro, sou suspeito para falar de um superparque aquático na beira da praia.








Eu nunca fui muito radical nem empreendedor. Gosto de coisas bem planejadas, pé no chão. Mas, na folia e pra valer o ingresso, cheguei a ir em algumas atrações de radicalidade média. Inclusive é um dos meus vídeos mais vistos no YouTube:







(Fala sério que esse vídeo já fez 10 anos!)


Obviamente, depois da tentativa, eu fico arrependido e decido não ir de novo.


Daí, a Isabela nasceu e o meu passeio ao Beach Park mudou completamente. Agora eu me divirto bastante vendo ela se divertir. Quem é pai, entende do que eu estou falando.








Enfim, se for acessível para você, vá ao Beach Park pelo menos uma vez na vida.


Vida longa ao Beach Park, e, mais importante: vida longa à Beach Park FM!


Um abraço e até um dia no Beach Park ou em qualquer outro lugar.



Ei, psiu, se liga…
Dá para ficar sabendo das novidades do blog pelas redes sociais. Sigam-me os bons!


        

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