Acabo
de completar o meu ano sabático – um ano fora da gestão de
projeto.
Foi
uma decisão muito importante para a minha carreira. Depois de 8 anos
estudando gestão, tive tempo para atualizar o meu “lado”
técnico.
Também
foi possível fazer autocrítica à minha forma de gerenciar projetos
e pessoas. Alguns comportamentos que eu (gestor) julgava naturais, eu
(não-gestor) percebi que eram bastante prejudiciais à equipe.
Talvez
até explicassem porque eu não conseguia obter algumas coisas da
equipe.
Mas
o fato é que foi ainda sob a minha gestão que implantamos
o gerenciamento ágil de projetos para
a equipe.
E
o que diabéisso?
O
que
é gerenciamento ágil?
É
gerenciar o projeto mais rapidamente? Gestor
correndo? Equipe correndo? Terminar o projeto mais rápido? Gerenciar
com agilidade? VAI, VAI, VAI, VAI!?
Nada
disso!
O
gerenciamento ágil de projetos é um conjunto de técnicas e
metodologias que
objetivam gerar mais valor para o cliente, através de entregas
incrementais e frequentes e do empoderamento de uma equipe
auto-organizada. Sendo
a sua
metodologia
principal o Scrum.
Como
assim?
A
base
de toda a metodologia é o conceito de sprint:
um espaço de tempo fixo.
Geralmente é medido em semanas e pode ter de 2 a 4 semanas
dependendo do projeto e da equipe.
O
objetivo da sprint
é entregar uma nova versão do produto com mais valor para o
cliente de acordo com as prioridades dele!
A
sprint
é subdividida em 4 espaços de tempo fixos,
todos
com participação de TODA a equipe:
-
Primeiro dia da sprint: dedicado ao planejamento do que será executado dentro da sprint. Esse planejamento é democrático e coletivo;
-
Primeira metade do último dia da sprint: revisão, ou seja, demonstração para o cliente da nova versão do produto desenvolvida na sprint;
-
Segunda metade do último dia da sprint: retrospectiva (ou lavagem de roupa suja). É um momento para a equipe discutir francamente o que foi bom e o que foi ruim durante o trabalho na sprint. O que poderia ser melhorado, evitado ou ratificado nas próximas sprints?
-
O restante do tempo da sprint é dedicado à execução, à produção, ao desenvolvimento do que foi planejado.
(Perceba
que o tempo é fixo e, portanto, a
sprint
não atrasa.
Podemos até não concluir tudo o que planejamos como objetivo
inicial
da sprint,
mas haverá uma entrega no último dia.)
Durante
a execução, a equipe se reúne diariamente para alinhar os
ponteiros: estamos
conseguindo avançar rumo ao objetivo da sprint?
O que nos atrasa ou impede o nosso andamento?
Como
fizemos
gerenciamento ágil de projetos?
O
nosso planejamento inicial era feito em uma planilha. Na primeira
aba, os objetivos da sprint
(a última coisa a se preencher, por sinal).
Na
próxima aba, a disponibilidade da
equipe, ou seja, quais pessoas, quantos dias, quantas horas por dia…
Somando tudo, a gente saberia quantas horas de trabalho a equipe
dispunha para a sprint.
E
aqui, um pulo do gato: a gente só contava com 75% das horas
possíveis. Os demais 25% eram a “gordura” (reserva
gerencial) da sprint,
reservada para imprevistos, planejamento falho, coisas que atrasam,
coisas que não funcionam, licenças médicas etc.
Parece
um desperdício não planejar 25% das horas de uma equipe, mas
acredite nos nossos resultados: é melhor
planejar 75% das horas disponíveis e entregar tudo o que você
prometeu do que planejar 100% das horas e entregar metade do
prometido!
Perceba
a sutil diferença entre horas planejadas e horas trabalhadas.
Existem tarefas planejadas para 8 horas que são feitas em 4. Assim
como, o contrário também é verdadeiro. O importante é ter margem
de erro para conseguir cumprir todos os objetivos da sprint.
Uma equipe que trabalha com criatividade e
consegue ser produtiva em 75% do seu tempo é uma equipe extremamente
eficiente.
Na
próxima aba, a gente listava todas (todas, mesmo) as atividades
necessárias para concluir as novidades do produto conforme
solicitado pelo cliente. Para cada atividade, a estimativa de horas
necessárias. E isso era totalmente democrático (todos opinavam
sobre qual atividade e quantas horas necessárias) e anônimo
(inicialmente, a atividade listada poderia ser executada por QUALQUER
pessoa da equipe).
A
gente tentava não criar atividades muito grandes que dificultavam o
seu acompanhamento. O ideal era termos atividades de no máximo 8
horas para que pudessem ser concluídas em, no máximo, 1 dia de
trabalho. Uma atividade de muitas horas era séria candidata a ser
dividida em subatividades menores.
Esse
planejamento continuava com a inclusão de novos pedidos do cliente
até que a gente conseguisse aproximar as horas das duas abas:
horas disponíveis para trabalho x horas necessárias para concluir a
entrega.
A
planilha nos dava o gráfico mágico de burn
down. Basicamente, esse gráfico mostra a linha ideal da
sprint, ou
seja, uma linha projetando a quantidade de trabalho restante pelos
dias. Pense em uma linha reta começando com o máximo de horas no
dia 0 e terminando com 0 hora no último dia da sprint.
Essa
planilha ficava no Google Drive para que todos pudessem atualizá-la
durante a sprint.
A atualização consistia em cada membro da equipe dizer quantas
horas ainda seriam necessárias para concluir as suas atividades.
Essas atividades também eram criadas em um quadro do Trello (kanban)
para que a equipe pudesse atribuí-las para si e informar sobre
andamento e conclusão.
A
equipe era obrigada a atualizar a planilha de horas restantes pelo
menos uma vez por dia, antes da reunião diária citada
anteriormente. O objetivo era divulgar para todos em tempo real e de
forma transparente o gráfico de burn down atualizado. A
planilha produzia uma segunda linha com as horas que realmente
restavam para a conclusão do trabalho. Assim, poderíamos comparar
visualmente o estimado com o realizado. Se a
nossa linha estivesse acima, estávamos atrasados, pois faltavam mais
horas de trabalho do que o estimado para aquele dia da sprint. Obviamente, linha abaixo, equipe adiantada.
Também
chamado de microgerenciamento (do tempo, do trabalho, das atividades,
das horas, da alocação…).
No
final da sprint,
utilizávamos o Agile DMAIC. Trata-se de uma ferramenta criada por um
membro da equipe (Thiago Ferraz) que nos ajudava a avaliar a nossa
aderência às práticas do Scrum e nos apontava como melhorar nas
próximas sprints.
Obviamente,
ter na equipe dois gerentes de projetos com larga experiência em
gerenciamento ágil nos deu muita segurança para mudarmos a nossa
forma de trabalhar.
Prós
e contras do gerenciamento
ágil de projetos
Eu
notei um aumento brutal da produtividade da nossa equipe. Eu não
tinha métricas precisas da nossa produtividade anterior, mas estimo
que a nossa produtividade tenha aumentado em torno de 300%!
E
daí, eu lembrei lá do livro do Scrum que eu printei acima…
A
produtividade melhorou bastante por conta da comunicação e do fluxo
de trabalho. Todo mundo já sabia prévia e
publicamente tudo o que precisava ser feito na sprint.
Eu não tinha que estar orquestrando tudo o tempo todo. Deixei de ser
um gargalo. Não importava se eu estivesse em uma reunião e
indisponível para a equipe: todos já sabiam o que fazer.
Eu
passei a ser mais um orientador conduzindo a equipe pelo processo e
usando a minha experiência para tentar alertar a equipe sobre
problemas futuros e pegadinhas em potencial.
A
equipe estava muito mais comprometida em fazer
o projeto dar certo e em cumprir o planejado. Afinal, foi a
equipe (praticamente sem pressão) quem disse o que dava para
entregar naquele tempo.
Havia
um sangue nos olhos para concluir atividades e baixar horas (diminuir
as horas restantes de trabalho). Havia uma necessidade de se mostrar
útil para a equipe. Não deveria, mas era um tanto constrangedor
você chegar na reunião dizendo que não baixou nenhuma horinha. E a
própria equipe se cobrava para que todos “funcionassem”.
Naturalmente,
notei a equipe mais cansada e mais estressada. Com
pequenas sprints,
quase toda semana é a semana decisiva da entrega. A equipe
estava quase sempre em tensão total, trabalhando a 200% para não
perder a sprint.
Essas
entregas rápidas (“ágeis”) nos davam um feedback igualmente
ágil, tanto do cliente, como dos nossos pares. Trazendo agilmente
melhoria contínua para a próxima sprint.
O
gerenciamento ágil investe pesado em psicologia: entregar o que
prometemos, zerar as horas de trabalho via gráfico, prestar contas
nas reuniões, vencer a sprint,
fazer ainda melhor na próxima… Funciona
porque mexe no íntimo dos seres humanos. Como assim a gente
não consegue o que a gente mesmo prometeu?
O
gerenciamento ágil, com seus rituais e artefatos, nos obrigou a
gerenciar o projeto de forma mais organizada.
E
valeu a pena?
Como
diz um radialista aqui do Ceará: ora se valeu!
Eu
não me vejo mais gerenciando projetos de uma forma que não seja a
que tentei descrever nesse post.
Um
abraço e vamos correndo até a próxima!
Post
Scriptum
Nessas
coincidências doidas da vida, no dia 23/11/16 eu precisei assumir
temporariamente a gestão do nosso projeto uma vez que o gestor
precisou tirar uma licença imprevista. Foi muita coincidência isso
acontecer exatamente 1 ano após o dia 23/11/15, quando eu comecei a
minha pausa.
Ei, psiu, se liga…
Dá para ficar sabendo das novidades do blog pelas redes sociais. Sigam-me os bons!
Conheça a minha obra completa em:
Achei interessante sua estratégia em sair da gestão por um tempo para aperfeiçoar sua forma de gerenciar considerando a perspectiva de um membro da equipe. Nada melhor do que estar na pele de um liderado para melhor entender o que funciona ou não. Apesar de muitos terem uma experiência técnica antes de assumirem uma gerência de projeto, não é a mesma coisa de poder refletir após ter vivido a experiência como gerente. Depois podemos conversar melhor sobre suas reflexões.
ResponderExcluir"Eu passei a ser mais um orientador conduzindo a equipe pelo processo e usando a minha experiência para tentar alertar a equipe sobre problemas futuros e pegadinhas em potencial." Isso está alinhado com a teoria que propus como tese de doutorado para explicar como gerentes de projeto de software tomam decisões.
Oi amigo
ResponderExcluirSerá que você poderia por os creditos do logo Sim, nós podemos? É que é do meu projeto :) qualquer coisa me mande um email lulu.leacina12@gmail.com
Post atualizado.
ExcluirObrigado.