Atendendo
a pedidos, vou dar os meus pitacos sobre o resgate dos Javalis
Selvagens (time
de futebol de adolescentes da Tailândia) da caverna Tham Luang, na
província
tailandesa de Chiang Rai, região
rural do país. A caverna fica bem abaixo da cadeia montanhosa que
separa a Tailândia de Mianmar. Provavelmente,
a história mais louca que você vai ouvir em 2018.
Como
o blog é sobre gerenciamento de projetos, é por aí que eu vou
tentar abordar o assunto.
Depois
de ter filhos, você lê esse tipo de notícias de outra forma. Você
se vê bem mais envolvido porque é impossível não pensar que
poderiam ser as suas pequenas ali naquela agonia. E
é óbvio que foi isso que gerou um tsunami mundial de empatia pelo
resgate dos pivetes.
A
pergunta
que eu e muita gente fez foi: por
que diabos entrar nessa caverna?
À
primeira vista, é um pouco difícil de entender essa decisão.
Então,
é preciso entrar na caverna, digo, entrar no assunto. A
região onde eles moram tem cavernas. Então, faz parte da cultura
deles explorá-las. É
um lazer. Uma
aventura radical. Em
alguns casos, funciona até como um “rito de passagem” juvenil. E
era
a comemoração do aniversário de um dos Javalis.
Só
que essa caverna em específico só pode ser visitada de novembro a
abril, período seco! Foi
aí que os Javalis vacilaram. E
eles se viram em apuros quando a caverna foi inundando e a única
“saída” foi adentrar cada vez mais.
“Se
correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Nessa
brincadeira, os
meninos (e
o seu treinador)
foram encontrados a 4 quilômetros da entrada da caverna,
em
um percurso com vários trechos submersos e muito apertados e outros
trechos que demandavam até escaladas. Os
mergulhadores profissionais estavam demorando 6 horas para ir e 5
horas para voltar. E
foi numa dessas viagens que um desses mergulhadores (militar e
triatleta) veio a falecer.
Pois
bem, alguém sentiu
falta dos meninos, alguém lembrou que eles tinham falado nesse
passeio na caverna, alguém viu umas bicicletas na entrada da caverna
e é aqui que começa o post: Projeto
de tirar os pivetes da caverna!
Como
foi formada a equipe do projeto? Basicamente por militares
tailandeses e voluntários da comunidade, do país e de outros cantos
do mundo, cada um com habilidades específicas para contribuir com o
resgate.
Quem
era o gerente do projeto? Difícil falar sobre isso, mas a
escolha natural recaiu sobre um militar.
A
equipe chegou a contar com 10 mil pessoas!
E como gerenciar isso, meu Deus!? Sem
contar que era uma gestão bastante emotiva por se tratar de um
resgate desafiador de crianças.
Como
planejar esse projeto? Quando se fala em um resgate, não há
muito tempo para planejar. Fazer de qualquer jeito também é muito
arriscado, pois pode vir a custar muitas vidas de resgatados e
resgatadores. O planejamento principal era estudar as opções
viáveis e os tempos para executá-las.
Esperar
a caverna secar parecia a opção mais sã. Isso falando como uma
pessoa que mora a 17
mil quilômetros da caverna. Os locais logo avisaram que a caverna
seria totalmente inundada e essa opção não deveria ser cogitada.
De
todo modo, bombas d’água trabalhavam a todo vapor e isso ajudou a
manter os níveis de água dentro da caverna.
Ainda
tentaram perfurar a caverna, como no resgate dos mineiros do Chile,
mas as rochas duras, a profundidade e o paradeiro desconhecido dos
Javalis não deu sucesso a essa opção. Também
tentaram usar drones com sensores térmicos.
Enquanto
isso, uma equipe com cem mergulhadores se aventurava na caverna
escura em busca dos meninos. Eles
se basearam nas pistas do local favorito que eles frequentavam e nas
possíveis rotas de fuga.
Depois
de 9 dias, os Javalis foram encontrados, literalmente pelo cheiro!
Eles
estavam todos vivos e com uma saúde mental inimaginável.
Pediram
até aos professores para pegarem leve na lição de casa, é mole? O
treinador os ensinou a meditar e isso foi fundamental para que eles
conseguissem poupar energia bem como a sua sanidade mental.
Também
contaram com a sorte de achar um abrigo que tinha uma quantidade
satisfatória de oxigênio, água potável caindo do teto, da caverna
ainda não estar 100% inundada e
da
persistência e coragem de uma equipe incrível de mergulhadores.
E
aqui
um parêntese para um dos lances que eu achei mais geniais dessa
história toda. Ao
ver o mergulhador, instintivamente, um dos garotos perguntou: “nós
vamos sair daqui?”. A
resposta que qualquer um de nós daria seria “sim”. A resposta
correta seria “não”. Mas ele foi extremamente frio e genial ao
responder:
“hoje
não”.
Ok.
Por mais impossível que parecesse, os meninos foram encontrados e
vivos. Final feliz!
Só
que não haha
Agora
era preciso tirá-los de lá e devolvê-los aos seus pais.
Os desafios só aumentavam!
Como
tirar da caverna garotos fracos e famintos que nem sabiam nadar por
uma caverna que matou um mergulhador profissional?
Enquanto
isso, foi instalado um cabo (“estrada”) para o local. E os
meninos ganharam companhia, auxílio médico, alimentação,
treinamento básico em mergulho, oxigênio,
luz, agasalhos,
telefone
e outras coisas possíveis.
Não
bastasse tudo isso, ainda tinha um monte de gente querendo lucrar às
custas da tragédia alheia. Sabe, o bicho-homem, o bicho no lixo da
minha poesia Miragens? Gente
querendo se promover como
o cara que convidou os meninos para a Final da Copa do Mundo ou o
outro
que queria resgatá-los com um minisubmarino.
Nessa mesma linha, já tem uns doidinhos querendo produzir o filme do
resgate.
Enfim,
chega uma hora de decisão em que o patrocinador do projeto precisa
dar o play, apertar o botão.
E
me parece que a decisão não foi difícil quando alguém falou no
ouvido dele: “bicho, tá
chovendo muito e em
dois dias essa merda toda vai inundar”. Partiu!
É
tão verdade que foi uma surpresa para todos quando soubemos que
alguns meninos já estavam fora da caverna.
Então,
do ponto de vista da teoria de Gerenciamento de Projetos, a inundação
completa da caverna não era um risco,
uma vez que já se tinha certeza
de
que
isso aconteceria.
Um
lance de muita polêmica diz respeito à sedação
dos garotos.
Afinal, eles foram ou não sedados? Eu acho que foram e acho que essa
foi a parte mais genial de todo o projeto! Quem teve essa ideia tá
de parabéns! Eu acho que isso foi o pulo do gato. Foi determinante
para que todos saíssem vivos.
Afinal,
o tanque de oxigênio dura uma hora para um mergulhador experiente,
mas dura apenas cinco minutos para uma pessoa afobada.
Os
Javalis Selvagens viraram celebridades mundiais e, como bons
adolescentes que são, sabem que fizeram “merda”. Pediram
desculpas por várias e várias vezes. Inclusive
foi a primeira mensagem que o treinador conseguiu enviar.
A
equipe
do hospital não deixou a bola cair e também fez um planejamento
impecável para a recuperação e o restabelecimento planejados dos
“morcegos”: nada de contatos físicos com pessoas, nem mesmo com
os parentes próximos; tapa-olhos nos primeiros dias;
restabelecimento gradual e planejado da alimentação.
Sensacional!
Isso
é Fazendo um Projeto dar Certo!
Obviamente,
não encontrei nada sobre os custos
do projeto desse resgate. Quanto
custou essa brincadeira?
Difícil saber ainda mais com tanto trabalho voluntário envolvido…
Mas, como falei antes, os meninos têm plena consciência que fizeram
“merda”.
Acho
que é pra isso que um país investe em suas tropas. Do
orçamento militar deve ter vindo
a
grana com a
qual tanto
oxigênio e outras coisas mais foram compradas.
E
pro filme arrecadar ainda mais bilheteria, a bomba d’água falhou
quando uma centena de heróis ainda estava tentando sair da caverna.
Alguém gritou: “madeeeeeeeira”
e foi aquele desespero na saída final!
Naturalmente,
a região vira atração turística mundial e os nativos vão lucrar
muito ainda com isso.
E,
se você não gostou da minha narrativa, segue a narrativa bem mais
rica (em todos os sentidos haha)
da BBC:
Na
vida é assim também. Às vezes, a gente se enfia em cavernas
terríveis e, quando se dá conta, não consegue mais sair de lá
sozinho. #PQP
Um
grande abraço, até a próxima e, como é o tema do post, espero te
encontrar um dia por aí, mas, obviamente, fora de uma caverna.
Ei, psiu, se liga…
Dá para ficar sabendo das novidades do blog pelas redes sociais. Sigam-me os bons!
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