Eu
tô muito cansado cuidando de uma bebêzinha e ainda tem a filha mais
velha, esposa, trabalho… Enfim, cada post inédito tem sido cada
vez mais duro. Eu me olho no espelho e penso: e
aí, macho, vai encarar?
Mas
os blogs têm um propósito importante na minha vida, então vamos
tentando…
Hoje
eu vou dar uns pitacos sobre o acidente trágico recém-ocorrido
no Beach Park, sempre tentando abordar por gestão, projetos e
marketing.
O
Acidente
No
último 16 de julho de 2018, quatro adultos desciam em uma boia no
brinquedo recém-inaugurado: Vainkará.
Supostamente
por excesso de peso, a boia ganhou muita velocidade e, na última
virada, capotou, arremessando as pessoas contra o brinquedo. Um
destes bateu com a cabeça e, tragicamente, faleceu.
[Vídeo
demonstrativo de uma descida bem sucedida]
O
Antimarketing
O
Beack
Park é um parque extremamente caro e turístico, não
necessariamente nessa ordem. Pelo que apurei, o parque bombou após a
crise que fez com
que os
turistas brasileiros fossem
menos
ao exterior. O
parque recebe mais visitantes de São Paulo, do Rio de Janeiro e só
depois, nós próprios, nativos.
Nessa
toada, eles têm uma visão estratégica de sempre inaugurar novas
superatrações no mês das férias (julho). É uma forma de não
deixar cair na rotina e fidelizar um público para que volte sempre.
Só
que ninguém quer pagar caro para morrer
né, meu chapa!? Ninguém quer morrer em um lugar turístico em um
momento de lazer.
O
parque se propõe a ser um parque radical. Óbvio que há brinquedos
para todos os gostos, níveis e idades, mas é nos brinquedos
radicais onde o parque se destaca.
E
a
equipe do marketing “vai com tudo” na hora de bolar nomes
intimidadores: Insano,
Kalafrio, Arrepius, Vaikuntudo, além do
finado Vainkará.
Os
brinquedos radicais apresentam as indicações de risco e segurança,
como restrições para grávidas e hipertensos, e, na maioria deles,
réguas para impedir que os baixinhos se arrisquem. (É a régua que
você tá pensando mesmo. Aquelas que a gente vê em consultórios
pediátricos.)
E
o povo do marketing caprichou no lançamento do Vainkará: trouxeram
vários artistas e digital influencers (calma, pai). Daí, eles iam
postar fotos e vídeos se divertindo no brinquedo e shazam!
Mas
esse gravíssimo acidente no primeiro dia da
operação oficial do brinquedo para o
público em geral fudeu tudo!
Trouxe
muita mídia negativa em todo o mundo para o parque.
É
tanto que, quando começaram a compartilhar a notícia comigo, eu
achei logo que era mais uma fake news de WhatsApp.
O
brinquedo caríssimo está fechado desde então. E o parque ficou
fechado em um dia de julho. Só isso aqui já foi um prejuízo
milionário.
O
Projeto
O
Vainkará foi desenvolvido pela empresa canadense ProSlide. Ela
se gaba de ser a número 1 em toboáguas radicais no mundo e que,
dentre milhões de brincantes, foi apenas a
primeira vítima fatal
em seus brinquedos.
O
projeto
do Vainkará custou 15 milhões de reais e teve 2,5 anos de
desenvolvimento, implantação e testes.
Oficialmente,
foram realizadas mais de cem descidas de testes com o brinquedo já
montado.
O
Jogo
dos 7 Erros
Eu
tenho muito medo de voar, mas esse medo diminuiu bastante depois que
eu comecei a assistir documentários sobre acidentes de avião. É
rapaz! Lá eles investigam tudo nos mínimos detalhes para
descobrir porque o acidente aconteceu e tomar medidas práticas para
evitar que acidentes daquele tipo se repitam.
É fantástico!
Só
que a investigação dos acidentes não é objetivando punir pessoas
“culpadas”, mas sim, entender o que deu errado para que não
aconteça novamente.
(Eu
tenho certeza de que o Vainkará está passando por uma investigação
desse tipo.)
Então,
eu vou listar aqui alguns erros que vi nessa história toda.
1.
Funcionários
– eles tinham a missão de não deixar uma boia descer com mais de
320 kg. Então, analisando friamente, o
erro foi
deles.
Mas
eu não sou FDP
de
vir aqui jogar tudo nas costas dos funcionários do parque que ganham
um salário “mínimo” para controlar centenas de descidas por
dia.
2.
Administração
do parque
– eles
tinham que dar condições para os funcionários validarem a
restrição de 320 kg por
boia.
Obviamente, com uma balança de precisão. Tal como são precisas e
inquestionáveis as tais réguas que eu citei.
3.
Processo
– o
processo de operação do brinquedo era totalmente falho. Os
funcionários tinham que validar no “olhômetro” se o peso estava
adequado. Uma vez por minuto durante horas e horas. Isso
controlando turistas curiosos e ávidos pela descida radical, depois
de passar uma hora em uma fila em uma escada.
4.
Falta
da balança
– se o peso era realmente um
elemento tão
crítico para
a segurança, jamais esse brinquedo poderia operar sem uma balança à
disposição para validar esse quesito importantíssimo.
5.
Quantidade
de testes
– “mais
de cem” testes eram suficientes?
6.
Qualidade
dos testes
– que variações foram feitas nesses testes? Quando
desenvolvemos sistemas, nós temos dezenas
de tipos de testes diferentes.
E um destes é o teste de estresse. A gente senta a porrada no
sistema pra ver quando ele peida, digo,
a gente sobrecarrega o uso do sistema para ver como ele vai se
comportar e qual o máximo que ele vai suportar. Quantas
descidas com mais de 320 kg foram feitas? Com quanto mais que 320 kg?
Obviamente, usando manequins, né?
7.
Projeto – no
entanto, na minha opinião, o maior erro de
todos foi do projeto do brinquedo: como
é que um brinquedo para 4 adultos só suporta 320 kg? Como
gastar 15 milhões para desenvolver um brinquedo praticamente inútil?
Como não ter uma balança acoplada ao brinquedo? Pior ainda é saber
que o brinquedo “irmão”, o Vaikuntudo padece da mesma restrição.
Obviamente, considerando que este outro brinquedo já opera há 2
anos, os 320 kg lá foram subdimensionados, o brinquedo aguenta mais
que isso é já houve descidas não fatais com mais de 320 kg. Porque
é impossível reunir grupos de 4 adultos
aleatoriamente durante dois anos e não exceder 320 kg.
A
Calculadora
E
esse episódio só me cheira a fake news. Eu digo isso porque li essa
notícia e tive muita dificuldade para acreditar que não era uma
fake news:
Fala
sério, bicho!?
Que
coisa mais tosca e amadora para um parque que quer ser referência
mundial!
Tudo
bem que algum diretor tenha surtado no meio de tanta pressão, mas o
colegiado tinha que manter a sanidade nessas horas.
Eu
no Beack Park
(Pra
o post não terminar muito pesado haha)
O
Beack Park é um lugar mágico. Quando você atravessa o
portal, literalmente a sua aura muda, parece coisa de filme
fantástico. Lá dentro, todo mundo muito feliz com o espírito
renovado. É contagiante. Tudo muito bonito e colorido. Água e
alegria pra todo lado. Tem até um rio e um mar de mentirinha.
Comecei
a ir através de excursões com a turma da empresa. Conseguimos 50%
de desconto e o passeio supercaro ficou apenas caro.
Mas
eu, sertanejo que acha que água é ouro, sou suspeito para falar de
um superparque aquático na beira da praia.
Eu
nunca fui muito radical nem empreendedor. Gosto de coisas bem
planejadas, pé no chão. Mas, na folia e pra valer o ingresso,
cheguei a ir em algumas atrações de radicalidade média. Inclusive
é um dos meus vídeos mais vistos no YouTube:
(Fala
sério que esse vídeo já fez 10 anos!)
Obviamente,
depois da tentativa, eu fico arrependido e decido não ir de novo.
Daí,
a Isabela nasceu e o meu passeio ao Beach Park mudou completamente.
Agora eu me divirto bastante vendo ela se divertir. Quem é pai,
entende do que eu estou falando.
Enfim,
se for acessível para você, vá ao Beach Park pelo menos uma vez na
vida.
Vida
longa ao Beach Park, e, mais importante: vida longa à Beach Park FM!
Um
abraço e até um dia no Beach Park ou em qualquer outro lugar.
Ei, psiu, se liga…
Dá para ficar sabendo das novidades do blog pelas redes sociais. Sigam-me os bons!
Conheça a minha obra completa em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário